sábado, 3 de maio de 2008

A lágrima que veio do outro lado do oceano

1º de maio, feriado, dia de botar em dia coisas pendentes. Como estava sem postar os últimos artigos que escrevi nas duas semanas passadas, pretendia fazê-lo naquele dia. Mas um telefone, de longe, interrompeu meus planos.
A notícia já era de certa forma esperada: minha tia Maria (na foto abaixo, eu e ela em sua casa, na Grécia) acabara de falecer em Salônica (GR). Em respeito à memória dela, preferi não postar nada naquele dia que levasse ao riso. Só hoje, resolvi escrever sobre sua morte e postar as duas crônicas abaixo.
Aos 89 anos ainda incompletos, tia Maria encontrava-se em coma há algumas semanas e já havia sido desenganada pelos médicos. Meu pai, que foi pra lá há um ano para ficar perto dela por causa da doença que a impossibilitava de se locomover sofria a perda da irmã mais velha, a única que ele não conseguiu trazer para morar no Brasil na década de 1950, quando os Ninos escolheram este país para recomeçar a vida após o fim da traumática 2ª guerra mundial.
Convivi com tia Maria durante os três anos que estive na Grécia (1988/1991). Não foi fácil. Tinha um gênio difícil e não conseguia se adaptar ao nosso estilo brasileiro de viver. Além do mais, nunca teve filhos e não sabia lidar com um jovem rebelde como eu era. Por conta disso acabamos nos desentendendo e, como é praxe na família Ninos (geniosa...) ficamos “de mal” estes anos todos, sem poder aparar as arestas antes de sua morte.
Eu já havia tentado conversar com ela em outras ocasiões, mas esta mantinha-se distante. Quando esteve aqui, há sete anos, mal me cumprimentou no dia do meu aniversário! Confesso que por conta do precipício que se criou entre nós, a lágrima pela morte dela não rolou imediatamente na quinta-feira, após eu receber a notícia de sua morte. Depois de algum tempo entalada no canto do olho, a lágrima surgiu aos poucos, contida é verdade, num misto de dor e alívio. É que pelos relatos de meu pai, a tia estava sofrendo muito na cama com dores lancinantes, apesar de tentar manter a velha fleuma aristocrática e o orgulho helênico (beirando a arrogância) que sempre lhe foram marcantes. Em resumo, mantinha de forma admirável seus princípios morais até os últimos instantes de sua vida.
Posso dizer que apesar dos problemas entre nós, tia Maria teve um grande significado em minha vida, pelo menos por ter me acolhido em sua casa por aqueles três anos de um auto-exílio forçado por minhas posturas de repórter polêmico que incomodaram alguns poderosos da região.
Muita coisa mudou em mim depois do retorno do outro lado do oceano. Outro dia talvez eu conte algumas histórias hilariantes que vivemos, e que fizeram o contraponto aos momentos de tensão entre a representante da velha Europa e o menino sonhador da América do Sul.
Que tia Maria descanse em paz!

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro amigo Jota Ninos,

Meus sentimentos pela perda de sua tia.

Abraços,

Deodoro Tavares, de Manaus, por e-mail.

Anônimo disse...

Oi, Ninos
Lamento que tua tia - como era bonita - tenha sofrido, mas agora ela está em paz e tu tens o encargo de nos contar a história de vocês, que certamente deve render uns belos textos.
Regina Alves

Anônimo disse...

Gd Jota!
A vida é assim... tudo passa! Mas todos sentimos a dor da perda de um ente querido.
A reconciliação espiritual é a que vale. A declaração verbal, face a face nem sempre é carregada da verdade, a profunda sinceridade que marca o sentimento do espírito humano.
A tia Maria estará como uma gigante a torcer por vc e a te proteger contra todos os males.
O menino e o jovem sonhador da América do Sul pode continuar sua luta.
Firmeza para toda a família!
Everaldo Portela