quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Em busca dos textos perdidos

Um dos poucos leitores dos textos de meu blog, ao acessar minha página estes dias, soube que o jornal Diário do Pará disponibilizou um link para o encarte regional do Diário do Tapajós.
Como não inseri o texto completo de meus últimos artigo, o amigo foi tentar lê-los através do link que eu coloquei aqui, mas sofreu uma decepção: o link só levava ao último texto inserido lá na edição on-line do Diário. Ou seja, quem não entrar na semana da publicação do meu texto, só poderá ler o último texto inserido!
Diante disso, passo a publicar a íntegra dos últimos textos, para quem não os acompanhou quando estavam disponíveis no link do Diário.
E a partir de agora não cometerei mais este erro. Achei que o Diário manteria um arquivo de tudo o que foi linkado. Lêdo engano.
Vai primeiro o artigo sobre o Carnaval, publicado em 20.01.2006:

Aqui, nem tudo acaba em samba...

O assunto que dominou (e sempre domina) os noticiários neste início de ano (e somente agora) é o carnaval de Santarém. Ninguém fala mais nisso depois que o carnaval acaba.
Carnaval? Que carnaval? Há muito tempo que a quadra momesca em nossa cidade não passa de uma tragicomédia de erros.
Este ano, com a saída do competente (um dos poucos da atual administração) coordenador de Cultura, Roberto Vinholte, o tal do “carnaval santareno” ganhou ainda mais em tragédia, mas no final, sem dúvida, não passará de uma triste comédia.
Até meados da década de 1980, o carnaval de rua manteve o glamour e chegou a ostentar inclusive um discutível título de “um dos melhores do norte”. Época em que havia até “escolas de samba” e um apoio maciço de verbas da prefeitura, que pouco eram fiscalizadas.
O investimento de prefeitos que não tinham nenhum compromisso com o bem público (pois nem eleitos eram, já que Santarém foi Área de Segurança Nacional até 1985), transformou o carnaval em uma fonte de renda para “carnavalescos” e, provavelmente, em fonte de desvio de recursos para políticos.
Com a volta da democracia, a farra também começou a ruir: surgia em 1986, de um lado, a ASAC - Associação Santarenas de Agremiações Carnavalescas, que tinha como objetivo organizar os desfiles e intermediar a relação com o Poder Público e do outro, a Secretaria Municipal de Cultura.
Só que o que poderia ser sonho acabou virando pesadelo: o diálogo deixou de existir pois a maioria dos integrantes da ASAC, principalmente seu fundador, o advogado Geraldo Sirotheau, eram opositores do então prefeito eleito, Ronaldo Campos e o primeiro gestor de cultura, o historiador João Veiga dos Santos, que apesar da bagagem cultural era tão irascível e autoritário quanto seu prefeito no trato das questões culturais.
Resumo da ópera: o samba começava a entrar no descompasso e a relação do poder público e de quem faz o carnaval foi ficando conturbada a cada carnaval. O “carnaval santareno” definha até hoje como manifestação cultural, e entrou na esfera da disputa política ou, no mínimo, da busca de recursos para a sanha de meia dúzia de “carnavalescos”.
Que me perdoem os brincantes dos blocos, mas boa parte das agremiações é liderada por pessoas que não tem o verdadeiro compromisso cultural e muito menos tino organizacional. Com isso, o que se vê é um espetáculo canhestro e o eterno debate se queremos um carnaval “de enredo” ou “de empolgação”.
Quem sabe não seja hora de acabar com o que já não existe? Ou então, voltar a sofrer horas na avenida a espera do próximo bloco que pouco se difere dos “sujos”, verdadeiros foliões de Momo que nada tem a ver com toda essa polêmica.
Afinal, o povo nessa história toda (e em outras), já sambou faz tempo...
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Agora, o artigo do dia 27.01.2006:
Ervas daninhas renascem mais fortes, quando adubadas

A democracia brasileira ainda é frágil.
Se compararmos nosso estágio político com o da evolução do Homem poderíamos dizer que saímos apenas do período Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada (Ditadura) para o período intermediário da evolução da espécie humana, o Mesolítico (Eleição direta).
Em suma, vivemos numa era mezzo lascada, mezzo polida, como convém a uma boa pizza de político, mais longe da Idade da Pedra Polida (Neolítico) do que possa imaginar nossa vã filosofia. Afinal, eleição não é tudo.
Depois da eleição indireta do Tancredo e do (des)governo Sarney, caímos num poço profundo chamado Collor, encharcado de dólares e sangue. Lodaçal. Mas, logo nos recuperamos e ao “tirá-llo” do poder acreditou-se que o mal foi cortado pela raiz. Lêdo engano: outros escândalos ainda estavam por vir. E veio o Escândalo dos Anões do orçamento e mais cassações...
Passado esse período, mais uma vez acreditou-se que a democracia começava a ser consolidada quando chegou o “reinado” de FHC e seu PSDB. Novos escândalos só não vieram à tona (como o caso da privatização das Teles) porque o Real encobriu a real condição do Brasil. Lula não passava de um “sapo barbudo” e o PT continuava a ser uma utopia pós-muro de Berlim.
Oito anos de enganação depois e quase nenhuma cassação de político, chegamos ao Poder (assim acreditamos)! O Brasil dava exemplo no cenário mundial e Lula era o herói preparado por Duda para nos redimir... até que a lama voltou a escoar por um valerioduto.
Renúncias e cassações de políticos envolvidos com a corrupção voltam a nos dar o alento de que a depuração do processo político está a um passo, mas sempre existe um político disposto a ser o nosso “Freddy Kruger”, aquele monstro hollywoodiano que assombra adolescentes com seus pesadelos.
Além das armações nos bastidores da CPI, vem um deputado (do Pará, o indefectível Nicias Ribeiro) propor o aumento das bancadas de alguns estados. Mais deputados: a solução!? E não é só isso: agora uma emenda no Senado pode aumentar as vagas em nossas Câmaras Municipais!
Sou um democrata convicto e tenho que acreditar que sairemos desse estágio quase letárgico, para uma era em que plantar idéias e sonhos seja o caminho para colher a felicidade. Como já disse um poeta “tanta flor nasce do esterco, perfumando a escuridão”!

Mas como em toda a plantação é preciso acabar com as ervas daninhas, antes que elas acabem conosco. Adubá-las pode ser perigoso: elas renascem mais fortes e ao invés de ervas podem se tornar plantas carnívoras.
Que venha a Idade das Flores sem espinhos!
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Agora é a vez do texto do dia 03.02.2006:

Governador chega hoje à Santarém. E daí?

Como jornalista, há mais de 20 anos acompanho as passagens meteóricas de nossos governadores por esta região, geralmente em períodos que antecedem campanhas políticas. Por isso, a passagem do governador Simão Jatene, hoje, de nada servirá, a não ser para mais um show de demagogia devidamente registrado em vídeo para gerar aquelas peças publicitárias que mostram um Pará que a gente nunca vê por aqui.
Para quem vai acompanhar este périplo pela primeira vez, é bom que tenha em mãos um roteiro, para não sair do figurino.
Tudo começa no aeroporto: Jatene desce acenando, talvez de boné e uma camisa de mangas nas cores do PSDB (amarelo e/ou azul). Coisa de marqueteiro...
Não faltará a indefectível fila de bajuladores estaduais e “aspones” (alguns tentando posar de papagaios-de-pirata, por serem candidatos a candidato) na cerimônia do “beija-mão” já no saguão do aeroporto, orquestrada pelas palmas de um efusivo Surdão (“Muito Bem!).
À frente da turba, decerto estará nossa ilustre prefeita Maria “sorridente” do Carmo, se sentindo pinto no lixo! Dever de ofício?
No hall de entrada, repórteres afoitos coletarão respostas previsíveis à perguntas que sempre se repetem. Tomara que desta vez Jatene não seja grosseiro com nenhum coleguinha, como já foi em outras vezes. Como pessoa, ele até é um tipo bonachão. Diria até que como governador, Jatene é um excelente boêmio. Combina com ele muito mais uma rodada de cantoria ou uma pesca no rio do que os compromissos protocolares. Talvez por isso ele às vezes se estresse e esteja ensaiando o discurso “já me vú”...
Depois, assinatura de papéis para a liberação de verbas que hão de vir para obras que hão de ser feitas. Não perguntem sobre conclusão, pois isso é um exercício de futurologia.
Fora do aeroporto, faixas com dizeres ufanistas do tipo “Obrigado, governador!”. No tempo em que o PT era um partido de massas, haveria uma manifestação já na Fernando Guilhon, próximo ao Santarenzinho. Hoje não convém...
Visitas às obras. Não importa que o canteiro seja o mesmo visitado da última vez. Fotos aos montes. O governador é um astro pop! Gravação de entrevistas nas TV´s locais, para repetir as mesmas lorotas de sempre.
Ao final do dia, as chamadas “classes produtivas” de Santarém, recepcionarão o governador na Associação. Baterão palmas ao discurso brilhante. Alguns chegarão a se derramar em elogios. Quem sabe até com uma comenda. Convém só falar mal dele quando já não estiver aqui. A surpresa será se um deles levantar irado e esculachar o governador. Mas isso é utopia, todo empresário sabe onde o imposto dói...
Nova comitiva até o aeroporto. Adeuzinho na escada do avião... missão cumprida. O Oeste do Pará agora é outro!
Passagens de governadores por Santarém são uma festa. Os “mocorongos” (no sentido mais pejorativo que possa haver) vão ao seu encontro em busca de algum espelhinho...
Afinal ainda vivemos no período da colonização...
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Por fim, o texto da semana passada (10.02.2006): que ainda pode ser lido no link, mas que a partir de amanhã deve ser excluído:

A Síndrome da Cabanagem atropela o debate amazônico

Pulmão do Mundo”, “Última fronteira”, “Celeiro do Brasil”. As denominações são várias e a intenção é apenas uma: a Amazônia não tem o direito de se desenvolver e deve ser preservada para “servir o país e o mundo”. O amazônida fica reduzido à condição de mero espectador do progresso alheio.
O debate já ocorre há décadas, mas foi à partir da Conferência Eco-92 realizada no Rio de Janeiro (1992), que ficou mais clara a existência de dois grandes blocos nessa discussão: os ambientalistas e os desenvolvimentistas. Os primeiros, representados por ONG’s (Organizações Não-Governamentais) ambientalistas financiadas por entidades estrangeiras. Os segundos, tendo à frente empresários do setor madeireiro e agropecuário.
A verdade é que a falta de uma política governamental mais clara para a Amazônia, ajudou a acirrar o debate e até hoje não há um meio termo. O senso comum é que todos querem um futuro melhor do que presenciamos hoje, sem que isso signifique a destruição de nossos recursos naturais.
Mas para que se chegue a um denominador comum, seria necessário o bom senso de ambas as partes, desarmando-se de quaisquer objetivos partidários para analisar friamente os projetos que começam a ser implantados ou planejados para a região. Não adianta ser somente contra ou somente a favor. Tanto os ambientalistas, quanto os desenvolvimentistas, devem ter o discernimento sobre que desenvolvimento queremos e a que custo.
A criação de um pólo agrícola na região é, sem dúvida, interessante do ponto de vista do desenvolvimento e criação de divisas. Mas não se pode esquecer a agricultura familiar, o que não significa manter a cultura de subsistência ou as práticas de puro extrativismo predador. Enquanto ONG’s criticam a criação desse pólo sem apresentar propostas racionais, os projetos caminham e às vezes são implantados “na marra”.
Depois que o caldo entorna, é difícil reparar os erros. Até hoje não vi nenhuma ONG questionar a possível produção de produtos transgênicos na região. Estão mais preocupados de vociferar contra a implantação dos pólos agroindustriais, mas não atentam para um problema maior que pode advir da produção dos transgênicos (experiências devem estar sendo realizadas, mas ninguém fala sobre o assunto).
O mesmo vale para a construção de estradas, ampliação de portos ou barragens. Assim como a delimitação de áreas através da criação de Florestas Nacionais (Flona), Reservas Extrativistas (Resex) e outros tipos de áreas de conservação ou preservação ambiental.
Não podemos ser contra o desenvolvimento e nem contra propostas que visem defender nosso patrimônio natural. O que está faltando é que todos sentem e discutam a Amazônia de dentro para fora, não de fora para dentro. Devemos discutir o que queremos para a nossa região, sem a interferência de projetos megalômanos que não levam em conta as questões regionais ou a intromissão de agentes externos que investem dólares para manter-nos como um gueto de biodiversidade ou um aquário de estudos.
Vivemos ainda sob a égide do que chamo de Síndrome da Cabanagem: tivemos a oportunidade de ser um país-Amazônia, fomos sufocados por nossa própria desorganização e viramos massa de manobra de elites políticas compromissadas com esquemas putrefatos ou ainda, com grupos organizados que escondem intenções escusas atrás de boas propostas de defesa da cidadania.
Que Amazônia, afinal, queremos?
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UFA! UMA OVERDOSE DE TEXTOS, NÃO?
Amanhã insiro o mais novo, que estará sendo publicado nesta sexta-feira.
Um abraço ao amigo Jota Parente, ligado aqui no blog, lá de Itaituba...

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