sexta-feira, 7 de abril de 2006

O fim da via crúcis da Paixão teatral(*)

A atabalhoada apresentação realizada ano passado na praça Tiradentes, durante mais uma Semana Santa, foi na verdade a morte – talvez sem ressurreição – do já aclamado “maior espetáculo ao ar livre do Estado do Pará”. Vai-se, como já se foram outros eventos culturais desta terra, a peça que já fazia parte do calendário cultural do município, “Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo”, que era apresentada há 15 anos pelo Grupo Teatral José Anchieta, criado pelo padre verbita (da Ordem do verbo Divino) José Dillon no final dos anos 1980, na paróquia de São Raimundo.
Depois de muitos desacertos, o espetáculo deixa de ser apresentado com a pompa de antes, mas os moradores da paróquia onde tudo começou, não desistem: há algumas semanas acompanho a movimentação de paroquianos empenhados em realizar a mesma encenação, utilizando como palco a bela e reformada praça do Centenário (a popular praça de São Raimundo) e a igreja do padroeiro.
Hoje, apesar de não ser mais morador da comunidade, mantenho uma relação próxima com o bairro, não só porque a família de minha esposa vive e faz parte da história da paróquia de São Raimundo, tendo inclusive esta contribuído com a construção do colégio de mesmo nome, mas também por manter atividades culturais com amigos do bairro.
Alguns destes amigos iniciaram suas atividades com o padre José Dillon - que também conheci na época em que ainda não era jornalista e trabalhava no escritório da CUT (que funcionava no convento de São Raimundo, onde os verbitas ainda hoje se alojam) – e como integrantes do Gruteja participaram da via crúcis do grupo, que foi se esfacelando por conta de brigas internas e da utilização de sua estrutura por políticos inescrupulosos que fizeram dele trampolim para sua aspirações partidárias.
O grupo cresceu e depois que o espetáculo passou a ser “patrimônio cultural do município”, através de Lei Municipal, surgiu o projeto megalômano do ex-vereador petista Marco Aurélio Magalhaães, o Marquinho (mais um dos pupilos do padre Edilberto Sena que não deu certo), que era um dos promissores jovens da paróquia (ironia do destino, hoje ele é pastor evangélico e presidente municipal do PSDB!) e convenceu o grupo a levar o espetáculo para o estádio Jader Barbalho.
Surgiram as primeiras dissidências e dentro destas, outras facções, contas mal contabilizadas, prejuízos e assembléias marcadas por maniqueísmos políticos de um vereador em decadência (Marquinho nunca mais se elegeu e até hoje cumpre apenas o papel de Sancho Pança de Aldo “Quixote” Queiroz, eterno candidato a qualquer coisa).
Concluindo, sempre que a cultura e a arte estiverem a serviço de ideais político-partidários, o destino será a morte, sem direito à ressurreição.
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(*) Artigo inserido em minha coluna Perípatos, publicada hoje no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

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