segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Candidato prefeito

Leitor anônimo, inseriu um comentário aqui no blog, curto e grosso, sobre o artigo "Polgreço":
Frase dita por um político:
"Drenagem não dá placa de inauguração."
Que pena... Nas próximas eleições TATU para prefeito!

ESTUDAR É PRECISO! (*)

Meu artigo de hoje é a reprodução de um texto que escrevi recentemente num boletim da instituição de ensino superior em que estudo. Publico aqui, com pequenas modificações, por achar que o tema é oportuno:
O ato de estudar não precisa necessariamente de uma instituição regulamentada. Mas estudar por estudar pode significar a o dilema hamletiano do “ser ou não ser”. Ou seja, o acompanhamento pedagógico e o modus vivendi nas salas de aula fazem parte de um aprendizado salutar.
Hoje muito se fala que “é preciso estudar para ingressar no mercado de trabalho”. A premissa é verdadeira diante da realidade imposta pelo sistema econômico vigente, mas o pragmatismo contido nela transforma o estudo em obrigação.
Estudar é preciso, como respirar é preciso. Mas não porque qualifica ou insere em algum mercado. O conhecimento, empírico ou científico, deveria ser tão divertido como lazer ou tão prazeroso quanto o sexo.
Eu pessoalmente nunca parei de estudar, dentro ou fora de uma instituição. E apesar de nunca ter conseguido concluir qualquer curso de graduação continuo estudando, com ou sem método, empírica ou cientificamente.
Já abandonei dois cursos de graduação nos quais, por motivos diversos, perdi o interesse. Estou prestes a deixar outro pelo meio do caminho, em busca de uma nova alternativa (caso eu passe no vestibular), sendo que este último é um dos “curso de formação superior específica” de curta direção, desses que nos preparam “para o mercado”. Sinceramente não era isso que me interessava quando passei no vestibular. O mercado que me desculpe, mas estou me lixando pra ele!
Antes de tudo, quero o conhecimento porque gosto de estudar. Muito embora não me adeqüe a determinados padrões e metodologias didático-pedagógicas, vou continuar insistindo.
Que não me entendam mal os leitores quando digo que não “tô nem aí” para o mercado! Para mim a relação profissional com este “ente” que domina nossas vidas deve ser conseqüência, e não causa. Todo mundo nasce com capacidade para assimilar, empírica ou cientificamente, técnicas profissionais.
E dependendo do talento nato de cada um, pode-se conseguir (mesmo que a duras penas) a inserção no tal mercado, mesmo sem um diploma ou certificado. Mas já que ele exige tal papel, vamos à luta!
Há mais de vinte anos atuo como radialista e jornalista em Santarém e há quase três anos exerço a função de Escrivão Judicial concursado do TJE, um cargo que não necessitou mais que minha formação secundarista. Sempre quis me graduar em Jornalismo, e esta opção que vou buscar neste início de ano.
Mas, independente de freqüentar ou não um curso regular, acredito que estudar é antes de tudo aprender, diariamente, dialogando com quem sabe e quem não sabe, pois o conhecimento está acima de qualquer diploma.
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(*) Artigo inserido em minha coluna Perípatos (de 23.12.2005), que é publicada às terças e sextas no Diário do Tapajós, suplemento regional do jornal Diário do Pará.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Vende-se uma manjedoura! (*)

Recebi por e-mail um artigo do genial escritor Mário Prata intitulado “Jingle Bells pra vocês”, que logo inseri em meu quase sempre desatualizado blog. Sua definição para o tal “espírito natalino” que baixa em nossos corpos anualmente foi fantástica. Sem a mesma genialidade do mestre, faço minhas reflexões, correndo o risco de ser amaldiçoado, já que para mim não existe data mais hipócrita do que o Natal.
Em nome do tal “espírito natalino”, de repente, todos nós vivemos o êxtase do arrependimento e nos reunimos com familiares ou colegas de trabalho para “confraternizar”. Por alguns instantes esquecemos todo o ódio que destilamos durante todo o ano e nos convertemos em “cristãos” de última hora. Vemos “o renascimento de Cristo em nossos corações” e chegamos a, hipocritamente, rezar um Pai Nosso que dificilmente balbuciamos no restante do ano!
E aí vem a história da tradição dos presentes. A obrigação de dar um mimo a um “ente querido” ou participar dos repugnantes “amigos secretos”. E o ”Jingle Bell” que azucrina nossos ouvidos combina com o tilintar das caixas registradoras dos comerciantes.
A tal tradição foi praticamente criada pela igreja católica, a partir do mito dos três reis magos, “personagens criados pelo evangelista Mateus para simbolizar o reconhecimento de Jesus por todos os povos”, como explica o professor de História Antiga da UFRJ, André Chevitaresse (Superinteressante/ JAN-2002). Nem há certeza de que tenham sido reis, mas segundo ele, o mito era uma maneira de confirmar a profecia contida no Salmo 72: “Todos os reis cairão diante dele”.
O fato é que em torno desta tradição construiu-se o merchandising necessário para todo mundo faturar. Por conta disso a manjedoura de Cristo está à venda das lojas de R$ 1,99 aos shoppings de luxo. Tudo isso me inspira um mini-conto de Natal:
Casal de retirantes (ela grávida, quase parindo) chega do interior, de bajara, à cidade. Expulsos de suas terras por grileiros, vêm tentar a sobrevida em Santarém. Sem dinheiro e sem abrigo, passa a dormir embaixo daquele monstrengo que chamam de viaduto.
Nasce um menino. Por conta do “espírito natalino” algum “rei mago” surgirá com uma cesta básica. Mas, passado o Natal, a manjedoura (uma caixa de leite forrada de folhas de jornal) e o casal terão que deixar o local, pois o progresso urge.
Mais de trinta anos depois, aquela família estará vivendo em algum lote numa invasão da periferia. Semi-analfabeto e desempregado, o jovem vive de bicos como o pai, que já está quase cego, enquanto a mãe trabalha de doméstica. Revoltado com a situação, o jovem participa de movimentos populares e um dia pode ser morto por um policial durante uma manifestação.
A história se repete, quase com o mesmo enredo, há mais de dois mil anos. Mas o que importa é o peru do Natal e o ho-ho-ho de um Papai Noel gigante na praça.
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(*) Artigo inserido no dia 20.12.2005 em minha coluna Perípatos, que é publicada às terças e sextas no Diário do Tapajós, encarte regional do jornal Diário do Pará.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Jingle Bell prá vocês (*)

Concordo em gênero, número e grau com o artigo do grande Mário Prata, sobre o Natal, que me foi mandado por e-mail pela amiga Socorro Brasil, de Belém, e que publico aqui no blog:

Não gosto do Natal. Não chego a odiar mas não gosto. Nunca gostei. Desde pequeno, no interior. Papai Noel sempre me assustou. Gostava de preparar a árvore com dias de antecedência, apesar de não concordar em colocar algodão para "simbolizar" a neve. Gostava de imaginar os presentes. Aliás, não gosto nem de dar e nem de receber presentes em datas certas. O presente é bom quando você não espera. No aniversário, Natal, Dia da Criança, depois Dia dos Pais, acho um saco de Papai Noel. O presente, conforme a palavra em si se explica, é uma presença. Portanto, não pode ser datada. Não deve ser uma obrigatoriedade.
Além de não gostar do Natal, em alguns aspectos, ele chega a ser irritante: Em vários aspectos. Senão, vejamos:
— Quer coisa mais irritante durante o mês de dezembro do que ir a um barzinho ou restaurante, de noite, para tomar um chopinho e ter, ao seu lado, aos gritos, berros e urros, uma "festinha da firma", com risos histéricos, discursos profundos e etílicos do "chefe", gozações com a "gostosa" da firma e a indefectível troca de "amigos secretos?" Por que gritam tanto nas "festinhas da firma?" E quando você vai ao banheiro sempre tem um ou dois funcionários burocraticamente vomitando. Como se vomita no Natal! Principalmente os bancários.
— E o "amigo secreto" então? Já notaram que sempre sai para quem não é nem muito amigo e muito menos muito secreto? E você passa o mês inteiro tendo que imaginar o que vai dar praquele chato. Se o "amigo secreto" já é uma relação constrangedora na firma, em família então, nem se fala. Em primeiro lugar, porque dois ou três dias depois do "sorteio", todo mundo já sabe quem é o amigo de quem. Você já sabe pra quem vai dar e de quem vai receber. Essas informações sempre vazam no seio familiar. Sempre tem uma irmã que sabe de todos, ninguém sabe como. E você que torceu para não sair aquela prima fofoqueira, pois é justamente com ela que você vai se abraçar logo mais. E dizer todas aquelas frases. Todas, são insubstituíveis.
— E as propagandas de Natal? Existe coisa mais horrível que este bando de gordos com brancas barbas, puxados por veadinhos? A publicidade brasileira é uma das melhores do mundo, perdendo talvez apenas para a inglesa. Mas, chega o Natal, baixa o "espírito natalino" nos criadores das agências e dá no que dá. Eles não conseguem (há 1.994 anos) fazer um único anúncio sequer decente nessa época. São constrangedores, amadores, dignos de um Papai Noel de mentirinha. Tem uns, mais "criativos", que até neve têm, debaixo dos 40 graus de dezembro.
— E aqueles Papais Noéis que vão de casa em casa e os pais obrigam as criancinhas a dar beijo naquele sujeito imenso, barba descolada, sapatão de militar, já meio bêbado depois de passar em várias casas de amigos e parentes? As criancinhas esperneiam, não dormem semanas seguidas, sonhando com aquele monstro que o pai fez beijar. Meu Deus, é um outro pai que eu tenho?, devem pensar os pequenininhos da família. E o monstro ainda diz "coisas" para os indefesos, presos nos braços do pai ou da mãe, quiçá da avó: este ano, não vai fazer malcriação, vai comer toda a papinha, não vai mentir e nem fazer xixi na cama, viu, Rony? Coitados.
— Mas o pior mesmo é a ceia, propriamente dita. Com o passar dos anos, a família vai crescendo e de repente já são quatro gerações que estão ali, de olho no peru. Umas 50 pessoas. E ali dá de tudo. Cunhados que não se falam, a velhinha que não escuta os planos do asilo, o fulano que está falido, coitado, a prima que está dando para um sobrinho, aquele casal que está separado mas que, no Natal, baixa o "espírito" e eles comparecem juntos. Todo mundo sabe que se odeiam. Mas é Natal. Aquele tio que deve tanto para o seu irmão também está lá. Mas é Natal. E a irmã que não pagou a trombada que ela deu com o carro do tio-avô? Tudo é permitido. Afinal, é Natal. Nasceu quem mesmo? Jesus, não foi? E, por isso, à meia-noite, todos dão as mãos e rezam (des)unidos. E, para terminar: existe música mais chata que Jingle Bell?
Já o Reveillon, é o maior barato. É quando tomamos o porre para tirar e esquecer a ressaca do Natal. Mas não adianta. No ano que vem, tem outro Natal.

Culinária regional: opção de emprego e renda (*)

A culinária regional deveria ter um destaque especial no programa de qualquer político que pretendesse implementar um programa sério de geração de emprego e renda. Seja para consumo de turistas ou para a população local, seria imprescindível uma maior atenção a este setor, afinal é o estômago que fisga a maior parte de nossa atenção no dia-a-dia dos lugares públicos, principalmente nos centros urbanos.
Não se ouve nenhum político dedicar um minuto de seu discurso para esse filão. E se fala, não concretiza qualquer projeto que aproveite a riqueza cultural de nossa culinária, transformando-a em geração de espaços para esse tipo de alimentação. A não ser em balneários turísticos onde a duras penas estes espaços existem, muito embora deixem muito a desejar.
Existe um exército de tacacazeiras e quituteiras regionais prontas para servir guloseimas de dar água na boca. A tradição destas mulheres do povo deixa suas marcas nas esquinas da cidade por conta de seu próprio esforço e perseverança. Elas sobrevivem sem fazer parte de uma estatística organizada da prefeitura ou de uma política de valorização dos espaços para a integração destes profissionais, que gerariam oportunidades de emprego e renda.
Em Belém, nas últimas décadas, muitos espaços públicos evidenciaram a construção de quiosques especiais para abrigar estes profissionais e investiu-se na padronização e na higiene dos produtos. Cada governo que passou deu sua contribuição: alguns com projetos arquitetônicos megalômanos, outros com medidas simples de organização ouvindo os próprios trabalhadores do local. Resultado: hoje dá gosto sentar e comer num boxe do Ver-o-peso, que por muitos anos foi sinônimo de sujeira e desorganização.
Em Santarém, o que se viu sempre foi a perseguição aos ambulantes e suas barraquinhas improvisadas por conta da procedência duvidosa e da higiene dos produtos. A orla em frente à cidade foi projetada para ter quiosques eqüidistantes que serviriam para abrigar esse tipo de serviço, mas até agora não saíram do papel.
E o pior: quem busca alguma guloseima regional entre os ambulantes que se instalaram em toda sua extensão, tem que se contentar com pizzas expressas, hot-dogs ou queijinhos defumados servidos em espeto. Tacacá ou vatapá, nem pensar!
Será que a Semdes – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, não poderia organizar estes espaços e garantir que a orla e outros espaços públicos fossem um espaço para todos os gostos? Porque temos que ser obrigados a desfrutar da bela visão do rio, sem poder degustar dos acepipes regionais? Sem contar na geração de emprego e renda combinada com alimentação mais nutricional.
Nada contra pizzas e x-qualquer coisa. Mas em tempo de diversidade regional e cultural, nada mais justo que garantir um lugar ao sol para nossa culinária, que faz qualquer turista (ou não) lamber os beiços!
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(*) Artigo publicado em minha coluna Peripatos, no Diário do Tapajós - edição regional do Diário do Pará - em 13.12.2005.

sábado, 10 de dezembro de 2005

“POLGRÉÇO”

O companheiro Grazziano Guarany, Gerente de Informática da TV Tapajós, me enviou este delicioso texto há dias. Por conta dos problemas relatados no post anterior, só agora, direto de um cyber, insiro essa pérola... molhada:

Após uma lastimável estiagem voltamos a ter chuva, desta vez uma chuva de verdade, com direito a raios e trovões, “vento-de-cima”, barcos fugindo pro outro lado rio.
Nesta manhã de quarta-feira dirigindo meu carro pelas ruas santarenas, debaixo de uma chuva torrencial me senti andando em São Paulo quando daquelas chuvas que a gente vê pela TV.
O diálogo com a minha filha de 19 anos que ia fazer um prova às 08:00 e só conseguiu chegar às 08:15 foi mais ou menos assim:
- Vamos, pai! dobra nessa... não... não!
- Não dá. Está alagada.
- Vai e dobra na outra.
- Não dá também, não é asfaltada e tá uma vala só.
- Então vai pela Cuiabá e dobra na Mendonça,
- Só dá pra andar uma quadra na Cuiabá ai gente volta e pega a paralela.
- Isso ai! o senhor anda mais uma e volta pra Cuiabá por que lá na frente não passa.
Nossa! Como nossa cidade está ficando igual aquelas que aparecem no Jornal Nacional!
É bacana mesmo, e se a gente assistir ao Patrulhão da Cidade: vai se sentir no Rio de Janeiro: "Mataram um, queimaram outro, espancaram a senhora, esfaquearam o vigia, desapareceu o filho da fulana" e coisas do tipo.
Parece que ninguém mais rouba galinha na nossa cidade.
Estamos virando cidade grande.
É triste ver que depois de décadas de abandono e incompetência na gestão pública estamos pagando o preço, e ainda por cima ver a cidade inchando, a população aumentando, a quantidade de carros cada vez maior e a infraestrutura que não dá conta da cidade.
Depois de anos de obras eleitoreiras onde só se asfaltou uma rua aqui outra ali e não se fez drenagem, nem esgotos, não podíamos esperar outra coisa.

O filho pródigo

Chego em casa exultante:
- Meu filho saiu da UTI!
A família se aglomera em torno do ente querido que retorna ao lar. Ele logo é posto em seu lugar de destaque. Todos fazem fila para cumprimentá-lo. Eu barro todos. Minha saudade é maior. Foram tres meses sem a presença dele em meu lar. Estava prestes a ter um colapso.
-Primeiro eu!
Aviso ameaçador, com a mora de quem manda no lar (pelo menos nestes momentos). Todos fazem cara de muxoxo, mas fazer o quê?
- O senhor sempre preferiu ele do que nós!
Reclamam os filhos amuados.
Cego e surdo, não me afeto com as lamúrias. passo a arrumar o filho querido: cabos, fios, energia e...
Pronto! Meu computado está novamente ligado! Agora quem sabe eu acabe o meu jejum internético!
Passo a reinstalar todos os programas que foram desistalados enquanto esteve no "estaleiro". O próximo passo será conectar na internet, e aí ninguém mais reclamará de meus atrasos no blog!
Cansado, deixo a segunda fase da operação "retorno ao lar" para o dia seguinte.
...
No outro dia, tudo ligado vamos ao trabalho. De repente...
Foi-se o monitor... Queimou-se a chance de me ver do outro lado da tela preta!
....
Agora a parte sã do meu PC volta ao estaleiro... Serão mais quantos dias de agonia?

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

O cão nosso de cada dia (*)

A vida estressante da cidade nos remete à necessidade do contato com a natureza. Acredito que quem tem em casa um bicho de estimação, principalmente se for um cão, tem uma ponte com essa natureza. Tenho em casa 5 espécimes anti-estressantes com os quais brinco e rolo no chão feito criança, esquecendo o que acontece além da janela-TV que se abre à minha frente.
Com um deles em especial, tenho iniciado uma nova rotina de inter-ajuda. É Tunga, um fila brasileiro misturado com vira-lata (ainda mais brasileiro), de pele dourada e que vive estressado por ficar preso em casa. Resolvemos sair juntos todos os dias de manhã (antes d'eu ir ao trabalho) para um passeio na Vera Paz (ou o que restou dela), que fica a 100 metros de minha casa. Eu, meio sonolento só de calção, ele atento e devidamente trajado numa coleira-peitoral.
Tunga é um tipo temperamental, marrento: encrespa com qualquer coisa que não conhece, e, às vezes, pode até se virar contra o dono (já levei algumas mordidas dele!). Mas no fundo é um sentimental...
Como todo cachorro que se preza, Tunga sai cheirando todos os espaços e sempre levanta a perna, despeja jatos de sua urina e marca seu território. Ao entrarmos na área da Vera Paz onde fica um campinho de futebol ele dá a primeira levantada de perna num outdoor onde dois políticos sorriem pedindo votos à Santa. Não acredito que estivesse marcando território neste caso...
Encontramos sinais de um incêndio recente no mato que insiste em crescer na beira da praia. Do terminal da Cargill até à avenida Tapajós, um rastro de destruição de dar dó. Tunga cheira o ar, me olha e parece desaprovar. Antes de atravessarmos o campo, paro e falo com dois homens que estão terminando de calafetar um barco. Um deles me conta que o incêndio foi criminoso: alguém chegou e simplesmente tocou fogo no mato e saiu correndo. O fogo se alastrou no mato seco e só não atingiu a pequena embarcação porque eles estavam lá e jogaram água ao redor.
Tunga me puxa para o campinho. Sai marcando cada um dos picos de escanteio, traves e restos de arquibancadas. É um jogador. Sentamos no meio do campo e Tunga late para os carros que passam na avenida. Ficamos ali por alguns minutos contemplando um pedaço da natureza que está sendo engolido pelo progresso.
O cão me puxa de novo e segue marcando árvores, gramas, tôcos, pedras. Até parar diante de uma cerca com uma placa com inscrição ameaçadora: “Proibido ultrapassar: área restrita”. Do outro lado, galpões. Tunga me fita. Balanço a cabeça negativamente, mas como bom anarquista ele levanta a perna mais uma vez e mija na placa...
Tunga sabe que a natureza não gosta de cercas e nem de proibições. E não deve entender como nós, humanos, nos acomodamos sem reagir.
É hora de voltar para casa.
Uma pilha de processos e de carimbos me esperam.
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(*) artigo inserido em minha coluna Perípatos, publicada no jornal Diário do Pará, em sua edição regional (Diário do Tapajós), de 02.12.2005.

terça-feira, 29 de novembro de 2005

No meio do black tie, um homem do povo (*)

Esta é a saudação que escrevi para minha filha, Juliana Pinto, ler durante a solenidade de entrega do Prêmio Internacional Liberdade de Imprensa, no dia 22, em Nova York.

Uma peça teatral reflete muito bem o que é o Brasil. Trata-se de "Eles não Usam Black Tie". Sou um brasileiro comum, que jamais usou um black tie. Mas bem que gostaria de estar neste momento entre os senhores envergando um traje a rigor. Ele nos torna mais agradáveis, é confortável, realça ou superdimensiona algumas das nossas qualidades. É nossa vitrine glamourosa.
Nesta festa, porém, o traje é, sobretudo, um símbolo. É um traço de união entre o mundo rico e o mundo pobre. Os cidadãos afortunados que aqui se encontram concederam, referendaram ou estão a aplaudir quatro cidadãos que têm empenhado seu engenho & arte para diminuir - se não acabar - com a distância entre ricos e pobres. Têm colaborado para construir uma ponte entre os poucos que têm muito e os muitos que nada têm. Não apenas pensando em termos materiais. Raciocinando, também, com valores morais e éticos, lidando com conceitos como dignidade, liberdade, vontade, opção, alternativa.
Sabemos nós, honrados pela escolha do CPJ, que os senhores são uma boa platéia, uma plenária bem vestida e bem alimentada de ouvidos sensíveis, de olhos perspicazes, de vontades dignas, de gente decente, que não se envergonha de seu black tie, muito pelo contrário, usa-o com aprumo e elegância. Mas querendo contribuir para que todos possam vestir-se bem, comer bem, pensar bem, fazer o bem.
Venho de uma região que abriga 18% da água superficial doce desse nosso maltratado planeta e um terço das florestas tropicais que nele ainda restam. Nessas matas há a maior fonte de diversidade de vida, um volume de informações genéticas que ainda somos incapazes de dimensionar - e mais incapazes ainda de preservar para o necessário momento de estudo, revelação, controle e respeito. Apesar dessas duas grandezas básicas, em escala planetária, temos nos notabilizado como predadores justamente dessas que são nossas maiores riquezas.
Nenhum povo destruiu mais floresta, em tão curto prazo, como os colonizadores contemporâneos da Amazônia fizeram em apenas meio século. O desmatamento já consumado na Amazônia equivale a uma área duas vezes e meia maior do que o Estado de São Paulo, que concentra em seu território um terço da riqueza brasileira, ou 700 mil quilômetros quadrados. Na década de 60, ela representava menos de 1% da Amazônia. Hoje, está chegando a 20%. É uma devastação terrível e um desperdício criminoso de recursos naturais, muitos dos quais nem chegaram a ser inventariados.
Não se lance culpa execrável sobre os colonizadores da Amazônia. Foi assim em toda história da humanidade. Depois de nos tornarmos Homo Sapiens, nos restringimos a ser Homo Agrícola no trato com a natureza. Nunca nos consolidamos como Homo Floresta. A história da expansão física da sociedade humana é a história da devastação de suas florestas. Nossa cultura é a do desmatamento.
Agora, porém, temos a oportunidade única de usar a experiência da destruição e os conhecimentos já acumulados no trato com a natureza para escrevermos na Amazônia uma história inédita, centrada na manutenção da floresta e não na sua extirpação. É a última oportunidade que a humanidade tem de fundar o Homo Floresta.
Esse "capítulo do Gênesis" que o criador não escreveu, transferindo-o para a responsabilidade de sua criatura, ainda é possível. Mas a cada dia essa possibilidade se distancia do plano da realidade. Se ela for exeqüível, só o será com a participação dos homens de boa vontade do mundo inteiro. O capital já descobriu que a Amazônia é um lugar excelente para se reproduzir e se multiplicar. A Amazônia já faz parte do circuito internacional do capital, fornecendo produtos como os minérios, a madeira, algumas outras matérias primas e, através de biombos, informações genéticas valiosíssimas. É hora de entrar em ação o circuito do saber, da informação, da solidariedade do conhecimento.
Com tanta água, a Amazônia não sabe manejá-la. Vivemos agora o impacto de uma seca como nunca se imaginou que fosse acontecer. O abastecimento de água potável é um grande problema nas cidades. No campo, já há regiões onde a água só pode ser captada em grandes profundidades. O equilíbrio ecológico, que permite à floresta viver dela mesma, foi rompido e está ameaçado de destruição antes mesmo que tenhamos podido compreendê-lo.
Só compreenderemos tudo isso, tornando-nos parceiros verdadeiramente inteligentes dos caprichos que a natureza aplicou na Amazônia, se contarmos com a solidariedade dos povos que mais se adiantaram na produção científica e tecnológica, num projeto verdadeiramente humanista, generosamente partilhado. Só assim a Amazônia escapará ao destino que o bwana lhe traçou, condenando-a a ser uma vil repetição do que aconteceu na África e na Ásia.
Neste dia em que não pude vestir meu black tie e vir a esta bonita festa, na capital do mundo, atado que me encontro nas teias sórdidas montadas pelos que querem sufocar meu jornalismo crítico, comprometido em transformar a verdade na arma de libertação de que falava o profeta bíblico, mando-lhes o apelo das selvas, à maneira de Jack London, o grande jornalista de outras fronteiras no mundo: estendam suas pontes a este lado do mundo. Embarquem no desafio de construir uma civilização e uma cultura da floresta nesse Éden que o grande criador delegou à nossa criação - humana, demasiadamente humana. Que os ensaios de garranchos sejam substituídos por uma página bem escrita, na qual a inteligência crie um mundo novo, melhor e mais justo, como nós todos desejamos. Com black tie ou em mangas de camisa, não faz diferença. Muito obrigado.
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(*) Lúcio Flávio Pinto, jornalista. Artigo republicado neste blog sob permissão do jornalista Miguel Oliveira, diretor do jornal O Estado do Tapajós, onde foi originariamente publicado em 29/11/2005.

segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Corações ligados pelas ondas do rádio(*)

Nas minhas andanças pela cidade gosto de conversar com pessoas que têm histórias interessantes para contar. Este emocionante depoimento colhi de um moto-taxista enquanto nos dirigíamos à faculdade.
Ele se apresentou a mim apenas como Naldo. Evangélico e músico autodidata, trabalha há algum tempo como moto-taxista regularizado e garante que consegue tirar seu ganha-pão daquela profissão. Ao descobrir que trabalhei na Rádio Rural, passa a me narrar uma história ocorrida há vários anos. Vou tentar reproduzi-la como a ouvi, podendo cometer aqui ou ali pequenos erros de informação, mas a essência é o que vale.
Morando numa colônia, Naldo cresceu ouvindo a Rural onde aprendeu a cantar as músicas que lá tocavam. Tinha em torno de quatro anos e tornou-se fã do programa de Bena Lago, comunicadora que tinha um grande público infantil, uma espécie de “Xuxa negra e ao tucupi”. Trabalhei com ela e me lembro da sua famosa saudação às crianças: “uma beijoca na ponta do nariz”. Naldo também se lembra. E como.
Naquele ano, Bena Lago instituiu um concurso para talentos infantis: as crianças deviam cantar em seu programa e aquelas que melhor se apresentassem ganhavam um presente dela. “Podiam pedir o que quisessem, desde que não fossem influenciados pelos pais”, lembra.
Aquela era sua chance de conseguir uma passagem para ir em busca do pai, que havia se separado de sua mãe quando ainda este nem tinha nascido. Sabia apenas que ele morava pras bandas do rio Moju.
Como era um garoto esperto, cantava qualquer música e fazia pequenos shows para os vizinhos. Ora, se tinha talento poderia se dar bem no programa da “tia Bena”, pensou. Mas como chegar à cidade? A família não tinha condições para tal luxo. A mãe cuidava dele e de outros quatro irmãos.
Um dia o prefeito (ele acha que foi o Ronan Liberal) passou pela sua localidade para entregar alguma obra. Disseram que a criança que melhor recebesse o prefeito ganharia dele o que quisesse. Naldo logo se apreentou. Cantou. Fez um show e emocionou o prefeito a tal ponto de sua mulher sugerir à mãe que gostaria de levá-lo para criá-lo na cidade. Naldo resistiu, mas cobrou a promessa do prefeito. “Peça o que quiser”, disse ele. “Quero ir no programa da Bena Lago”, disse o menino sem imaginar que o próprio prefeito poderia tê-lo levado ao encontro do pai!
Promessa cumprida, dias depois ele chegou ao estúdio e se superou: cantou maviosamente e emocionou a todos, ganhando seu prêmio. Bena se encarregou de encaminhá-lo em busca do pai no Moju. Emocionado, me relata que através daquele gesto conseguiu reunir a familia. A mãe já faleceu, mas hoje vive com o pai em plena harmonia.
Corações que se ligaram através das ondas do rádio. Uma das milhares de histórias que ainda circulam por aí, muitas delas inéditas como esta.
Até agora.
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(*) artigo inserido em minha coluna Perípatos, publicada no jornal Diário do Pará, em sua edição regional (Diário do Tapajós), de 25.11.2005.

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

PIB 2003 - O Oeste do Pará está mais pobre

(*) José Maria Piteira
A publicação recente do Produto Interno Bruto (PIB) do Pará e dos municípios do Estado, relativo ao ano de 2003, mostra que a região oeste ficou mais pobre, principalmente se comparado com os resultados gerados pelas demais regiões do Pará. Esta é uma das conclusões que se obtém ao analisar criticamente os estudos realizados pela Secretaria Executiva de Planejamento, Orçamento e Finanças (Sepof), em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e publicados no dia 18 de novembro. O PIB representa a soma total das riquezas geradas por um país, estado ou município. O PIB do Pará, em 2003, foi de R$ 29,2 bilhões, com crescimento nominal de 14,4%.
O crescimento da economia do oeste paraense foi de 10%, fazendo o PIB ir de R$ 3,7 bilhões para R$ 4 bilhões. Enquanto isso, a economia da região sudeste cresceu 19,4%, alcançando um PIB de R$ 8,9 bilhões. Já a região metropolitana de Belém apresentou crescimento nominal de 16%, totalizando um PIB de R$ 11,7 bilhões. Com esses resultados, a participação dessas regiões na composição do PIB estadual sofreu alterações: o sudeste passou de 29% para 30,4% e a região metropolitana pulou de 39% para 40%. Já o oeste do Pará caiu de 16%, em 2002, para 13,7% em 2003. Não há dúvida: a região ficou mais pobre. Mas, se quiser, pode comemorar uma vitória com gosto de consolação: superou a ilha de Marajó, que apresentou índice de crescimento econômico de apenas 4,4% na comparação entre os dois anos analisados.
Mas, também aqui no oeste, há números ainda mais dramáticos. Se usarmos o rio Amazonas como elemento de divisão da região – o que fato já acontece como critério verossímil pelo Poder Público na hora de definir investimentos –, o drama da desigualdade econômica é ainda mais alarmante. Na chamada sub-região da Calha Norte, formada pelos municípios localizados na margem esquerda do rio Amazonas, os resultados da economia são vergonhosos, mas refletem exatamente o resultado dos investimentos públicos nela aplicados pelos governos federal, estadual e municipais. A omissão covarde e quase criminosa de políticos locais, principalmente de alguns prefeitos e parlamentares, é revoltante e contribui enormemente para mantê-la nessa letargia.
A Calha Norte abriga dois grandes projetos econômicos – a Mineração Rio do Norte, em Oriximiná, e o Projeto Jarí, em Almeirim, hoje controlado pelo Grupo Orsa –, mas seu PIB está longe de representar qualquer expectativa otimista: cresceu mísero 0,87% em 2003. Curiosamente, esses dois municípios apresentaram retração econômica: Almeirim teve o PIB reduzido em 11,6%, deixando de produzir mais de R$ 54 milhões; Oriximiná perdeu R$ 49,3 milhões, desvalorizando seu PIB em 10,6%. A maioria dos demais municípios apresentou crescimento positivo, variando entre 30% e 10%. A exceção foi Faro, que evoluiu apenas 8,6%. Apesar do crescimento insignificante de 0,87% do PIB regional, a renda per capita manteve a tendência de crescimento registrada nos anos anteriores. Ela evoluiu 6,1%, chegando a 3.935,40 em 2003, apesar da queda média de 10% nos municípios de Almeirim e Oriximiná. Mas seu crescimento foi inferior à renda média do Estado, que alcançou 10,7%, chegando a R$ 4.367,00.
A política da maioria dos seus líderes regionais – e não apenas parlamentares e administradores públicos, mas também da sociedade civil. Todos sabemos que a maioria dos resultados de uma economia depende de determinações dos agentes políticos. A briga hoje travada entre o ministro Antonio Palocci e o resto do governo petista é um exemplo disso. No caso do Oeste paraense, as últimas eleições proporcionais, em 2002, foram uma prova de que nossos líderes são incompetentes até mesmo na hora de definir as alianças eleitorais que podem favorecer a região. Não temos, efetivamente, nenhum deputado federal – porque não o elegemos – com os olhos voltados prioritariamente para cá. Já houve tempos em que tivemos até três. Apenas três são os nossos atuais deputados estaduais, de um total de 41 na Assembléia Legislativa. É pouco, muito pouco, para uma região que tinha naquele ano mais de 500 mil eleitores. Seremos quase 600 mil nas próximas eleições, teremos votos suficientes para eleger pelo menos quatro deputados federais e, seguramente, seis estaduais, mas certamente que isso não acontecerá. Sem uma bancada parlamentar expressiva, nosso poder de barganha junto aos governos federal e estadual é mínimo: dá para ficar apenas com o varejo. Por outro lado, nossos prefeitos e, por extensão, as duas entidades que congregam os municípios da região (Amucan e Amut) não conseguem ser eficientes naquilo que deveria ser seu principal papel: unir a região e mobilizar seus agentes políticos (inclusive a sociedade civil organizada) em torno de projetos que sejam estratégicos para o seu desenvolvimento. Na verdade, nem têm claramente definidos quais são esses projetos. Cobrar a elaboração de um macroprojeto de desenvolvimento regional parece-me exigir demais. Como não somos capazes de tamanho feito, as coisas vão acontecendo de acordo com a vontade de agentes políticos e econômicos de fora – ou simplesmente não acontecem.
Mas, efetivamente, o que esse monte de números representa, além do empobrecimento da região e, no caso da Calha Norte, a estagnação da economia? Em primeiro lugar, representa incapacidade e impotência política da maioria dos seus líderes regionais – e não apenas parlamentares e administradores públicos, mas também da sociedade civil. Todos sabemos que a maioria dos resultados de uma economia depende de determinações dos agentes políticos.
Na Calha Norte, a luta pelo linhão de Tucuruí para a região é um exemplo piorado dessa antipolítica. Desde 2001, a Amucan luta pela construção da linha de transmissão de energia da Hidrelétrica de Tucuruí para a região. Já por três anos seguidos, o governo Lula contingenciou os recursos alocados no Orçamento da União para o início da obra. Nas mobilizações pelo linhão, poucos foram os prefeitos e parlamentares que participaram das reuniões convocadas, ou foram a Brasília para fazer lobby. Em duas das mais importantes reuniões convocadas pra discutir o assunto, em maio e junho, em Belém, a maioria dos prefeitos não participou; dos 61 parlamentares estaduais e federais paraenses convidados, apenas oito participaram ou mandaram representantes. Mais uma vez o projeto ficou adiado, e cada prefeito voltou aos seus afazeres paroquiais. Jorge Braga (Monte Alegre) e Argemiro Diniz (Oriximiná), os porta-estandartes do movimento, engoliram a seco a decepção.
Dividida e enfraquecida politicamente, a Amucan já esteve preste a fechar as portas. Separados por mesquinharias políticas, a maioria dos prefeitos da região não consegue agregar força suficiente para unificar seus movimentos reivindicatórios e dar-lhes consistência e conseqüência real. Ao que parece, alguns nem conseguem entender a importância estratégica desses investimentos, preferindo gastar suas fichas políticas com pleitos de menor importância junto ao governo do Estado e a parlamentares. Demonstram acreditar que as ações imediatistas e clientelistas rendem-lhes mais votos. Quatro deles sequer têm seus municípios filiados à Amucan. É lamentável!
Reivindicações sobre o asfaltamento das rodovias estaduais na região, como as PA’s 254, 255 e 423, fundamentais ao escoamento da produção primária regional, parecem deixadas de lado. Já foram encaminhadas a quem de direito e devem estar dormitando em algum escaninho oficial, excluídos das pautas de governo. O mesmo acontece com os clamores pela abertura do trecho da PA-254 entre Almeirim e Prainha, que permitiria a ligação rodoviária da região com o Amapá e os vizinhos do norte. Idem para os pleitos de implantação de núcleos da UFPA, da UEPA e da UFRA, importantes para democratizar o acesso dos alunos locais ao ensino superior e necessários à formação de mão-de-obra qualificada. A Amucan parece ter retirado esses pleitos de sua pauta de prioridades e poucos prefeitos deles se lembram durante as reuniões oficiais, e seus interlocutores neles não tocam. Mas, acreditem, estes poderão ser resgatados no próximo ano e, nos palanques, ser anunciados como “prioridades de governo”.
Outro exemplo desse imobilismo político foi a reação reles à seca que se abateu sobre os rios da região, flagelando milhares de ribeirinhos. A maioria dos governos municipais se restringiu à distribuição de cestas de alimentos e remédio repassados pelos governos do Estado e da União. E só! Os cientistas alertam que a seca pode ser apenas a primeira conseqüência local de um problema de dimensões mundiais: o aquecimento global. Ambientalistas alertam que novos eventos climáticos poderão acontecer nos próximos anos, e com maior gravidade. Mas ninguém parece interessado em discutir essas questões. Distribuir cestas básicas, entre outros clientelismos, parece render mais eleitoralmente.
Sem energia elétrica, sem estradas asfaltadas (a Transamazônica e a Santarém-Cuiabá já entraram para o folclore político do governo Lula) e outros investimentos em infra-estrutura que atraiam investidores privados, os municípios do Oeste ficaram mais pobres. Sem esses investimentos, a região produziu menos que as outras, diminuiu sua participação no PIB do Estado, viu sua renda per capita diminuir proporcionalmente e, claro, perdeu em importância política.
Os resultados negativos do PIB fortalecem, certamente, os discursos daqueles que defendem o separatismo e propõem a criação de um outro estado na região. Mas não bastam discursos incendiários. Eles são excelentes nos palanques, ainda que de resultados incertos. É preciso ação mais concreta. Como não agimos a tempo e de forma eficiente, precisamos reagir, e logo! Não podemos ficar indiferentes diante de um quadro grave como esse! Uma mobilização política da região, puxada pela Amucan e Amut e entidades civis, poderia ser um primeiro passo.
Também sou defensor da tese separatista, mas tenho dúvidas se já estamos suficientemente preparados para tal desafio. Os números do PIB recém divulgados e suas possíveis causas políticas, os erros (inclusive os de omissão) de nossos governantes e líderes regionais sugerem que não. É até possível que muitos deles sequer conhecem os números do PIB regional e dos municípios. E então?
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(*)José Maria Piteira é jornalista santareno e colaborador do Jornal de Santarém e do Baixo Amazonas. jmpiteira@yahoo.com.br

Patetas resistentes

A presidente da associação de moradores do entorno da praça São Sebastião e internauta convicta, Mirika Bemerguy, também não poderia deixar de registrar seu comentário sobre a praça dos "Três Patetas", do já comentado artigo postado neste blog:
Três patetas ou não, foi a única que resistiu a tudo e a todos, graças ao trabalho incansável do servidor público Sr. Licinho (o mesmo trabalha na prefeitura e mora na Dom Frederico), inclusive já fiz uma matéria com ele no informativo da nossa comunidade, o mesmo fica horas a fio de cócoras retirando as ervas daninhas, folhas,etc, é a praçinha mais limpa de Santarém.
A comunidade aguarda ansiosa é a revitalização da praça de S. Sebastião que está em ruínas!
Miriam Bemerguy

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

De volta ao tribunal...

Depois de mais de um ano, volto a atuar em um Tribunal do Júri.
Nesta sexta-feira, às 08h00, desengavetarei um paletó (!) e estarei na sala do tribunal em Santarém, apoiando o juiz Leonel Figueiredo Cavalcanti, juiz da 6ª Vara Penal, em seu primeiro júri, um complicado caso de homicídio qualificado ocorrido em Alenquer.
Durante minha estada em Ananindeua entre 2003/2004 participei de dezenas de júris e assessorei diversos juízes. Ao ser transferido para cá no ano passado, fui parar na vara da Infância e Juventude, mas desde agosto assumi a 6ª Vara Penal de Santarém, sendo este o primeiro júri no qual trabalharei aqui.

"Patetas", never more...

Miguel Oliveira, jornalista e editor do jornal O Estado do Tapajós, faz um reparo na informação que dei em meu artigo sobre a praça dos três patetas:
Jota Ninos,
Por acaso li, terça-feira, teu artigo no Diário.
Me deparei com uma desinformação. A praça 31 de março, ou dos três patetas, já mudou de nome no ano passado.
A Câmara aprovou projeto de autoria do vereador Giovani Aguiar, sancionado pelo prefeito Lira Maia, denominando aquela praça de Elias Pinto. Falta apenas a entronização do busto do ex-prefeito no local e a afixação de uma placa, providências que, infelizmente, não foram tomadas pelo Lira Maia.
A mudança de nome é um chute na canela dos milicos, por motivos mais do que óbvios. O resto da estória tu conheces muito bem.
Grato,
Miguel Oliveira

Preservando os "patetas"

O jornalista e blogueiro Jeso Carneiro, comenta o artigo sobre a praça dos três patetas (leia AQUI):
Concordo com a "revitalização" da praça, mas não com a mudança de nome.
A Praça dos Três Patetas (ou 31 de Março) deve ser preservada como símbolo de um período de trevas, de ares ditadoriais irrespiráveis, de área de segurança nacional que se abateu sobre o povo santareno.
Tem que revitalizar e colocar lá uma placa com o nome GARRAFAL do autor da idéia. Isso é história e como tal deve ser preservada.
Tem-se que, inclusive, convencer Laurimar Leal a recolocar no pedestal os "três patetas". Fez a obra, tenho certeza, por encomenda. E só dessa forma tem que ser entendida a sua participação no episódio.
Revitalizar sim, rasgar uma página de nossa história, nunca.
Jeso Carneiro

Fim do recesso judiciário

Em comunicado ontem, no site do TJE, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, desembargador Milton Nobre, informou que solicitou à Assembléia Legislativa do Estado a retirada do Projeto de Lei que havia encaminhado àquele Poder transformando em feriados forenses o período compreendido entre os dias 20 de dezembro e 06 de janeiro de cada ano.
Segundo o comunicado, "a decisão atendeu a reclamações oriundas das Comarcas do Interior de Vara única, cujos titulares, conforme manifestação do Dr. João Batista Lopes do Nascimento, presidente da AMEPA - Associação dos Magistrados do Estado do Pará, estariam insatisfeitos.
No site da AMEPA , a insatisfação apontada é que o projeto enviado pelo TJE à Assembléia, deixava de fora as Comarcas do Interior de Vara Única, dos feriados forenses.
Assim, o Tribunal comunica que haverá o funcionamento normal do Poder Judiciário no final do ano, ou seja, acaba aquele recesso ao qual todos já estavam acostumados.

Novo site

O colega jornalista Paulo Leandro Leal, editor do Jornal de Santarém e do Baixo-amazonas e da edição regional de O LIberal, desativou seu blog e criou um site mais completo, inclusive com serviço de classificados on-line grátis!
O endereço é www.pauloleandroleal.com. Vale a pena visitar

Um pedestal público sem os patetas de plantão

Não devemos ter, ao todo, nem 20 praças em toda a cidade. Muito pouco para uma futura capital. Construir novas praças então, é algo raro, sendo que as duas últimas criadas foram a Mimi Paixão (na Turiano, próximo aos terrenos do BEC) e a Dom Thiago, no Aeroporto Velho, há pouco mais de dois anos.
E as poucas praças que temos estão relegadas ao abandono apesar de sua conservação ser tão importante ao bem estar da população quanto o asfaltamento de ruas.
Poucas são as que foram reformadas (ou como dizem atualmente, “revitalizadas”) nos últimos 10 anos: a do Pescador, a da Liberdade, a do São Francisco do Caranazal e mais recentemente a Manoel Moraes (mais conhecida como praça do Mascotinho) e a do Centenário (ou praça de São Raimundo).
Entretanto, praças tradicionais como a Barão de Santarém (ou São Sebastião) e Tiradentes, clamam por qualquer investimento. É triste ver como elas não passam de espaços abertos mal aproveitados e depredados e sem o charme que uma praça deveria ter.
Mas uma praça em especial, é o retrato em 3 x 4 do descaso que os prefeitos têm demonstrado com estes espaços públicos. Falo da praça 31 de março. Como? Nunca ouviu falar? E se eu disser praça dos “Três Patetas”? Ah! Agora ,sim!
A pracinha até que está conservada, mas carrega a maldição de um nome pejorativo dado pelo povo em protesto à homenagem oficial a uma data execrável.
Como forma de fazer apologia ao golpe militar de 1964, um ex-prefeito (infelizmente não consegui confirmar quem foi o autor da proeza) resolveu dar o sugestivo nome de “31 de março”, data do tal golpe.
Além disso, encomendou à época ao artista plástico Laurimar Leal uma estátua para homenagear as Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica). A obra tinha três soldados que o povo começou a chamar de ‘Três Patetas” e assim ficou... O artista, segundo se comenta, indignado com a execração de sua obra, mandou tirar a estátua e até hoje está lá o pedestal vazio...
Há alguns anos sugeri à ex-vereadora Socorro Pena e esta apresentou um projeto de lei modificando o nome da praça, mas idéia foi derrubada sob a alegação de que a homenagem proposta era ilegal, pois não poderia se dar o nome de personalidade viva a logradouro público (muito embora o prédio da prefeitura homenageie o ex-senador Jarbas Passarinho, ainda vivo...).
Volto a sugerir aos vereadores que pelo menos “revitalizem” o nome da simpática pracinha e quem sabe atraiam bons fluídos para uma futura reforma, já que o homenageado agora está morto: mestre Isoca.
Como defendi há algum tempo, seria “a eternização em asfalto e cimento de um encontro poético entre pai (rua professor José Agostinho) e filho (praça maestro Wilson Fonseca)”.
E sem patetas no pedestal.
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(*) artigo inserido em minha coluna Perípatos, publicada no jornal Diário do Pará, em sua edição regional (Diário do Tapajós), de 22.11.2005.

sexta-feira, 18 de novembro de 2005

“Os vereadores de Santarém são todos idiotas!” (*)

A frase que ilustra o título deste artigo não é minha. Me foi dita dia no feriado por um distinto senhor num banco de praça, enquanto lia uma revista no feriado. Resolvi publicá-la por achar muito forte e séria a acusação feita por meu interlocutor.
Indignado com os políticos locais, ele comentava o artigo que escrevi na edição passada e desfiou um rosário de lamentações contra os políticos santarenos que “nada fazem para acabar com nossos problemas”, como o da falta d'água objeto daquele artigo. “São todos idiotas. Santarém ficaria melhor sem eles”, dizia o senhor com um ar marcial.
Discordei de sua afirmativa dizendo que esse tipo de consideração pode ser perigosa, pois, de repente, a indignação, primeiro instinto de quem se sente injustiçado, pode resvalar pelo canal que desagua no caos de uma ditadura e que ações extremistas se explicam, mas não se justificam, como já havia frisado naquele artigo.
Dizer que nossos vereadores são “idiotas” pode parecer um ataque gratuito e sem consistência. Ponderei que o vereador é o espelho da coletividade e não de si próprio. O problema é que o nosso sistema eleitoral é falho e permite o surgimento de figuras execráveis que acabam contaminando o todo.
A Legislatura de 1997/2000 foi uma das mais complexas, por eleger e derrubar presidentes como nunca. Mas ao mesmo tempo foi a que teve a sensibilidade de aprovar, por maioria de seus vereadores, a implantação de um serviço de integração com a comunidade o chamado Programa Legislativo & Cidadania (PLC).
O PLC mantinha um canal de acesso ao cidadão através de um serviço 0800 ligado a computadores e comandado por estagiários acadêmicos. Estudantes tiveram o primeiro acesso às sessões e participaram de debates com vereadores. O programa mensurava os anseios do cidadão podendo transformá-los em projetos de leis úteis e não apenas os inúteis requerimentos, moções de aplausos e honrarias que são aprovados todos os dias.
Creio que através de iniciativas como aquela, qualquer um dos poderes constituídos pode mostrar o quanto precisa descer do pedestal e chegar junto ao cidadão comum.
Quando já estava conseguindo convencer meu interlocutor da importância de se cobrar maior transparência e não tão-somente pregar a destruição da imagem do Poder Público, ele me perguntou: “e por que o projeto não prosperou?”. Respondi que um dia houve um misterioso arrombamento e os computadores sumiram...
Logicamente que ele desatou a rir e disse: “E por isso que eu acho que todos os vereadores santarenos são uns idiotas!”. Desisti de tentar demovê-lo da idéia. Me despedi, enquanto ele continuou se esbaldando no banco da praça.
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(*) artigo inserido em minha coluna Perípatos, publicada no jornal Diário do Pará, em sua edição regional (Diário do Tapajós), desta sexta-feira (18.11.2005)

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

TJE anuncia concurso

Foi aprovada hoje, por unanimidade de votos, pelo Pleno do Tribunal de Justiça do Estado a resolução nº 20/2005, autorizando a abertura de concurso público de provas e títulos para o preenchimento de 400 cargos vagos, cujo edital deve ser publicado mês que vem.
Uma comissão foi criada para coordenar o concurso, mas ainda não definiu a instituição que realizará o concurso para os cargos de analista judiciário, auxiliar judiciário e atendente judiciário, exigindo-se, respectivamente, escolaridade nos níveis superior, médio e fundamental.
O presidente do TJE, desembargador Milton Nobre (foto), informou que os cerca de 170 servidores temporários do TJE terão que fazer o concurso e caso não consigam aprovação serão dispensados.
Outras informações no site do TJE.

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

O que falta para invadir a Cosanpa? (*)

Longe de mim incitar a população a atos extremos. Como funcionário do Judiciário não pegaria bem esse tipo de conduta. Mas o que a Cosanpa tem feito com a população santarena nos últimos 30 anos, desde que ganhou a concessão do serviço de águas e esgotos (quando ainda se chamava SAE) é repulsivo e de um desrespeito total com os seres humanos que habitam nesta cidade. Daí minha pergunta neste artigo de hoje.
O desespero que toma conta dos moradores de periferia é ultrajante e ninguém toma uma atitude. Creio que se houvesse um líder de associação de bairros que levantasse a questão, outras lideranças refletiriam a respeito. Se o desespero aumentar, pode surgir um dia um visionário carismático para incendiar o ódio que queima no peito desta gente e logo, logo milhares de pessoas desceriam em romaria com latas de água na cabeça para ocupar o prédio da Cosanpa no centro da cidade.
Seria a imagem do caos. O centro da cidade se congestionaria já que toda a frota de ônibus da cidade passa por aquela via. A notícia repercutiria não só nos órgãos de comunicação de Santarém, como em Belém e quiçá no Brasil e no mundo!
Volto a afirmar que sou contra medidas extremas. Mas num caso desses, seria obrigado a me solidarizar com quem iniciasse tal movimento. Afinal, quando os líderes abandonam seu povo, a população acaba dando uma resposta avassaladora e até desordenada a quem desrespeita seus direitos. E não precisa ser morador do 3º mundo: a França nos dá um bom exemplo do que pode acontecer quando a turba entra em parafuso.
Voltando à minha pergunta apresento uma justificativa: o santareno é pacífico por natureza, beirando a passividade burra. Em qualquer outra cidade que vivesse o caos que vivemos, alguém já teria liderado um protesto barulhento. Mesmo nossas “lideranças populares” nunca ultrapassaram os limites de um extremismo infantil ou arroubos oportunistas em véspera de campanha eleitoral.
Para completar, nos últimos tempos o movimento popular passa por um refluxo que beira uma crise de identidade e o máximo que se vê é um líder de periferia denunciar o “descaso das autoridades” à imprensa. Até malucos de plantão, que já lideraram invasões em áreas abandonadas ou protestaram rasgando o título de eleitor em frente aos mesários, embarcaram na onda zen das poções mágicas da floresta!
Será que se o povo invadisse o prédio da Cosanpa, o Governador do Estado tomaria vergonha na cara pelo menos para cumprir o que prometeu recentemente na Câmara Municipal, através de seus assessores, de que faria um investimento de 5 milhões para minimizar o problema do abastecimento?
Longe de mim sugerir tal levante, mas se acontecesse seria compreensível.
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(*) artigo publicado ontem (15.11.05) em minha coluna Perípatos, que circula às terças e sextas no suplemento regional do Diário do Pará (Diário do Tapajós)

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

O olhar português

A poetisa portuguesa Helena Morujão, visita o blog para uma interessante reflexão sobre o papel dos portugueses na colonização brasileira, discordando de parte do que eu disse em meu artigo O corrupto que há dentro de nós:
Jota,
Um dia assistindo o programa do Jô, ouvi uma entrevista interessante, infelizmente não me lembro do nome do entrevistado que é brasileiro, mas ele chamou a atenção para a “sorte” que o Brasil teve, e no caso específico os índios, pois ao contrário do que aconteceu noutras terras como Angola, Moçambique, Guiné, São Tomé e Príncipe, Portugal não pegou nos Índios Brasileiros e os levou para terra estranha para os escravizar como fez com todos os nativos das outras terras.
Os Portugueses mantiveram sempre os Índios na sua terra natal, dando assim a possibilidade de eles se defenderem muito mais facilmente dos invasores, não conseguindo nunca totalmente controlar...
Acredito que como disse Pêro Vaz de Caminha:
"Caminha descreve os autóctones como que maravilhado por aquilo a que se chama a sua inocência e que nota particularmente nos seus corpos (a sua nudez tantas vezes repetida) e na sua entrega aos visitantes ("muito mais nossos amigos que nós seus"). Tão homens como os europeus, tão inocentes como o primeiro homem.”
Que o charme nativo, tenha sido um importante aliado na defesa dos naturais de vossa terra.
Note-se que predatórias também foram as conquistas de Angola, Moçambique....mas não tão charmosas que evitassem a escravatura....
Ainda hoje, o Charme Brasileiro, é um ”ex Libris” do vosso país.
Concluindo, e para não fugir ao assunto exposto, corrupção é só uma forma de sobrevivência do país, o negócio, a troca sempre existiu desde o inicio, como poderão agora os brasileiros adoptar outra forma de olhar???
Como dizes, como controlar o corrupto dentro de vós?
Talvez, procurando descobrir a fonte de prazer desviada, pela corrupção inicial. Portugueses, inicialmente tentaram “desviar” vosso prazer natural para um mais rápido, mais fácil com o álcool, adornamentos bonitos e algumas guloseimas.
Recolocando o prazer natural inicial, mais imaterial, em cada um, terá inicio, na minha opinião a grande diminuição da corrupção.
Comentário do blog: concordo com você em gênero, número e grau, com relação aos caminhos para se sair da cultura da corrupção. O prazer natural de que falas vem também do prazer de aprender. Um país que teve um dos maiores, se não o maior, educadores do mundo como Paulo Freire, não pode continuar mantendo índices de analfabetismo como o nosso. Como disse Chico Buarque: "Ai, esta terra ainda vais cumprir seu ideal/ainda vai tornar-se um imenso Portugal!"

Dossiê PT - estórias que não gostaria de contar

Quarenta e cinco dias depois do último capítulo deste Dossiê (leia AQUI), volto falando sobre a primeira experiência eleitoral dos petistas de Lula, depois de fundado o novo partido. Ontem, passei uma informação errada, de que o capítulo de hoje seria sobre o "primeiro racha" da Corrente. Mas, seguindo a ordem cronológica dos fatos, apresento este capítulo agora e nos próximos dias entrego o que prometi ontem. Minhas desculpas...

Capítulo IV - A primeira eleição a gente nunca esquece...

A grande eleição de 1982 (só não se votou para presidente e prefeitos de capitais, estâncias hidrominerais e áreas de segurança nacional – como Santarém – que eram indicados pelo regime militar) foi aquela em que a Dita Dura usou e abusou do casuísmo, criando o voto vinculado, ou seja, quem votasse no governador de um partido teria que votar na chapa completa do mesmo partido até o cargo de vereador. Era uma forma de conter os avanços da oposição, liderada pelo antigo MDB, que agora experimentava uma sigla “repaginada”: o PMDB, lipoaspirado dos blocos esquerdistas que nele habitavam, e que agora podiam se abrigar em novas siglas como PDT, PT e PSB. Todos contra o novo representante da direita: o PDS (ex-arena).
Como já disse em capítulo anterior, o PT no Pará começou extremamente dividido. Sindicalistas marxistas foram surpreendidos pela tomada do diretório estadual por outro grupo menos ortodoxo liderado pelos então professores Durbiratan Barbosa e Hélio Dourado, este último dono de um cursinho pré-vestibular muito famoso na época, em Belém. E em Santarém, a tendência Corrente havia perdido o poder para um grupo heterogêneo de sindicalistas não tão marxistas, mas liderados por um padre pra lá de extremista (até hoje), padre Edilberto. Essa divisão acabou prejudicando o partido que não pôde mostrar seu potencial, já que viveu um processo de autofagia em plena campanha.
A divisão no PT paraense foi tão grande que o pessoal da Corrente em Santarém e de outros grupos esquerdistas de Belém (entre eles os liderados por Paulo Rocha e Edmilson Rodrigues), detonaram a candidatura aprovada em convenção estadual, ao Governo do Estado, de Hélio Dourado, acusado de ser ligado à direita e de que teria se infiltrado no PT. Optou-se pelo chamado “voto camarão”, ou seja, “arranca-se a cabeça e fica-se com o corpo”.
Meu primeiro voto na vida foi assim: decepcionante. Votei só num dos candidatos ao Senado (que era “aliado”, o professor Nazareno Noronha), e, “cabrestamente”, em Geraldo Pastana para Federal, Valdir Ganzer para estadual e Milton Peloso para vereador! Meu primeiro voto não foi PT, foi PPG (denominação dada à Corrente, anos depois pelo neo-petista Everaldo Martins, que irritava os irmãos Pastana, Peloso e Ganzer. Everaldo usou sua influência para espalhar a inteligente sigla nos meios de comunicação, mas hoje deve negar tudo isso...)! Outros nomes de companheiros foram lançados, mas a boca pequena, trabalhávamos para que todos os 'correntistas' votassem só nestes nomes.
O grupo de Edilberto também lançou vários candidatos, mas concentrou seus votos nos irmãos Feitosa (Gonçalo para vereador, Mário para deputado estadual) e apoiava os nomes de Belém, como Bira Barbosa para federal. O resultado não poderia ser mais tosco. Em Santarém, apesar de bem votados, Gonçalo e Milton não conseguiram se eleger. No âmbito estadual e federal, idem.
Não me recordo bem, mas parece que Milton e Gonçalo tiveram votação maior ou próxima dos vereadores eleitos em Santarém, na época (foram 9 do PMDB e 4 do PDS). O problema era o tal do coeficiente eleitoral, que não foi suficiente para eleger pelo menos um. A derrota dos petistas, eu diria hoje, pode estar ligado a um fato inusitado que acabou sendo o maior castigo que os dois grupos poderiam ter sofrido.
Fui saber deste incidente que ocorreu nos bastidores daquela campanha, muitos anos depois e é digno de registro já que o confirmei recentemente com o próprio envolvido. Ele jura de pés juntos que isso realmente aconteceu, mas qualquer um dos petistas dirá que não é verdade. Se realmente for, é de qualquer petistas ter vergonha de ter participado de uma jogada tão suja!
Muita gente não sabe, mas apesar dos atropelos do PT paraense, Santarém teve o primeiro vereador do partido, logo em sua fundação. O então vereador Raimundo Barbosa Pacheco, o popular “Pachequinho”, deixou o MDB pelo qual tinha um assento na Câmara Municipal e se filiou ao PT. Entrou pelas mãos de Mário Feitosa ainda em 1981, fazendo história.
Pachequinho foi vítima do duelo de titãs e, decepcionado, anos depois abandonou o PT e fundou o PT, onde também perdeu os espaços para césar Sarmento e mais recentemente para Osmando Figueiredo. (por esse motivo indiquei seu nome como minha maior lembrança sobre política em Santarém, na consulta feita por Jeso Carneiro há alguns meses. Ele é a síntese do político ingênuo e simplório, bem intencionado, mas que não sobrevive em meio aos tubarões).
Ocorre que em 1982, por já ter assento na Câmara e ter uma popularidade razoável, Pachequinho era um forte candidato a ser o primeiro vereador eleito de Santarém e do Pará. Ele havia se definido para este cargo e levou sua candidatura até às vésperas da convenção municipal do PT em fevereiro de 1982, no salão do Colégio São Raimundo, onde os candidatos seriam definidos.
Os Feitosa viviam tentando convencê-lo a disputar outro mandato, já que tinham em mente eleger Gonçalo. Do outro lado, os Correntistas sabiam do “perigo” que Pachequinho representava, pois com seus votos poderia ficar à frente de Milton e a única vaga que todos acreditavam que o PT teria, poderia acabar nas mãos de um... Pachequinho!
Não há nenhuma prova, mas é quase certo que, por baixo dos panos, os dois lados antagônicos, os Feitosa e os Correntistas, teriam fechado um pacto: afastar em definitivo o “fator Pachequinho”. O próprio Pacheco confirma a história pra quem quiser ouvir: faltando poucos dias para a convenção municipal ele recebeu um telegrama do Diretório Nacional do PT quase implorando que fosse candidato a Deputado Federal! O telegrama era assinado pelo próprio presidente nacional do partido, o companheiro Lula!!!
Imaginem a euforia do pobre e ludibriado Pachequinho. Teria havido inclusive, um aceno de suporte mínimo na campanha para que ele “ajudasse a construir o PT, naquele momento crucial de sua história”, segundo os dizeres do telegrama (que Pacheco, infelizmente, não guardou). Pachequinho se convenceu de sua “missão” e acabou oPTando por uma vaga na Câmara Federal. O pior é que ele se atrapalhou na hora de registrar a candidatura e acabou ficando fora da disputa! Seria cômico se não fosse trágico! Se Pachequinho fosse candidato, o PT teria coeficiente para eleger pelo menos um e quem sabe até dois vereadores, mas a visão tosca dos dois grupos, preferiu usar de uma artimanha para afastar a “ameaça”...
Ora, Lula nem sabia que Pacheco existia, muito embora tivesse visitado Santarém mais vezes que Belém. Eu mesmo tive o privilégio de sentar ao lado do companheiro Lula, num banco improvisado no bairro do Livramento, onde fizemos uma reunião com vários militantes. Assim, o tal telegrama que Pacheco recebeu, se não foi forjado, pelo menos saiu de uma maquinação de quem tinha maior acesso ao Diretório Nacional: a Corrente.
Logicamente que essa história será peremptoriamente negada pelos petistas. Creio que nem Mário Feitosa a endossará. Mas pelo que vemos que o PT de Dirceu foi capaz de fazer hoje, não se duvida que possa ter feito coisa parecida há 23 anos atrás. E ademais, forjar documentos é uma prática stalinista antiga. Quem não se lembra das fotos onde Stalin “apagou” seu desafeto Trótski, na antiga União Soviética?
No próximo capítulo, o que já anunciei erroneamente ontem: o primeiro “racha” da Corrente.

domingo, 13 de novembro de 2005

Perípatos - O corrupto que há dentro de nós

Texto publicado em minha coluna Perípatos, no jornal Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará, edição de sexta-feira:
“Mar de lama”. “Vergonha nacional”. “Podridão”. Não é de hoje que o Brasil vive sob o estigma da corrupção. Os políticos apesar de execrados, continuam sendo eleitos e a corrupção afeta os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Há várias teses para explicar a disseminação da corrupção brasileira, algumas enfatizando que o vírus se instalou em nós desde a chegada dos primeiros colonizadores em solo brasileiro. O historiador Cassiano Telles Conceição, em sua “História da Corrupção no Brasil Antigo”, conta que já no encontro inicial entre os descobridores portugueses e os índios, os primeiros não entregaram os presentes prometidos e os segundos fugiram com provisões contrabandeadas por um marinheiro!
O escritor João ubaldo Ribeiro, numa entrevista à Revista Veja em maio deste ano (antes de estourar toda a corrupção de Zé Dirceu & Cia.), disse que a colonização no Brasil se deu em moldes muito diferentes dos da colonização dos Estados Unidos, pois “os colonizadores ingleses, ao vir para a América, estavam dando as costas para a Europa. Eles vieram para nunca mais voltar. Sua intenção, ao chegar ao Novo Mundo, era conceber uma nação ou várias pequenas nações nas treze colônias. No Brasil isso não ocorreu. Não porque os portugueses sejam ordinários pela própria natureza, como freqüentemente se diz. A questão é que Portugal nos pegou num momento em que sua prosperidade dependia do fato de o país ser um grande entreposto da Europa, um grande fornecedor de mercadorias. Fizeram, assim, uma colonização predatória”.
Estaria aí a alma da corrupção brasileira? Poderia-se então afirmar que daí viria o tal “jeitinho brasileiro”? Quem já não teve a tentação de furar uma fila de banco, quando encontra um conhecido ou mesmo tem uma amigo no caixa? Quem já não conseguiu fugir de uma multa de um guarda de trânsito, dando-lhe “o da cervejinha”?
A corrupção está em nosso sangue e não bastará derrubar este ou aquele candidato na próxima eleição. Precisamos primeiramente estirpar o corrupto que há dentro de nós, pois sem corruptor não há corrupto.
Precisamos evitar que nossos filhos se acostumem com atos que incentivem a cultura da corrupção. A própria Organização das Nações Unidas (ONU) divide a corrupção em três tipos: grande corrupção, corrupção na iniciativa privada e a corrupção leve, que é aquela que acontece no dia-a-dia, como os exemplos já citados.
Na próxima vez que pensar em eleger um vereador, não pense no que ele pode fazer pela sua familia ou por você mesmo. E sim o que ele pode fazer pela cidade. Conheço gente que elegeu vereador e na primeira semana se arrependeu: “Aaquele f.d.p. Não me arranjou uma vaga de assessor!”.
Como cobrar honestidade de um homem público se não dominarmos o corrupto que há dentro de nós?

A volta do Dossiê PT

Quarenta e cinco dias depois, estarei postando amanhã um novo capítulo do Dossiê PT.
Todos tem me cobrado a volta da saga petista e acham que eu "gelei", por mais que eu explique meus problemas técnicos, ainda não resolvidos.
Acompanhe amanhã, até o final da tarde, o capítulo "o primeiro racha da Corrente".

Conta, Ninos!

O artigo que publiquei AQUI no blog, extraído de minha coluna Perípatos, no Diário do Tapajós, causou verdadeiro frisson homofóbico e depravado de alguns coleguinhas da blogosfera, como mostram os pedidos suplicantes com o mesmo mote, abaixo:
Do publicitário e blogueiro, Juvêncio Arruda:
Ninos, que coisa hein? Me conte: você viu algum político por lá? A Maria foi? A PMS apoiou o evento? É verdade que havia uma biba enorme, fortona, cara de mázinha, queixo lá em cima, bundona?
Será que o Bené Bicudo tava vendo tudo lá de cima? Ouvi dizer que quando a parada passou na frente da casa do Pixilinga ele se tremia todo. Será mesmo?Algum radialista famoso e feioso presente ou transmitindo o evento?
Me disseram até que estavam levando uma alegoria em homenagem ao pingolim mais alentado de Santarém... Seria o do Surdão?
Ah, Ninos conta... conta Ninos.
Do jornalista e blogueiro, Jeso Carneiro:
Ninos, testemunha ímpar desse evento histórico, observador atento do comportamento e trejeitos humanos, com certeza não haverá de nos decepcionar, caro Juvêncio.
Conta, Ninos!!!
Do internauta que se assina Sun Tzu:
Puxa, Ninos, conta alguma coisa de um participante que caiu na famosa "Vala do Timóteo" e nunca mais saiu de lá? Tinha alguém deste tempo por lá?
Conta, Ninos, conta logo!
Comentário do blog: ê rapaziada, sossega o facho! Em primeiro lugar, todo o meu respeito à manifestação dos gays. Em segundo lugar, a pessoa ou pessoas que vocês gostariam de ver lá, não estava(m): ficou no armário de sempre! E cá pra nós, se fosse pra lá, de certeza tiraria o brilho da festa...
"Homines aliena melius vident et diiudicant quam sua". [Terêncio]

"Os homens vêem e julgam melhor as coisas dos outros que as suas".

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Peripatos - Parada Gay: o dia seguinte

Texto publicado esta semana em minha coluna Peripatos, no Diário do Tapajós:
A multidão multicor que se acotovelou na praça São Sebastião no domingo passado, não tirava os olhos das bolinhas que pululavam no globo da promoção milionária de um bingo caça-níquel que vem se tornando uma tradição na cidade, em nome da “solidariedade beneficente”.
Terminado o sorteio, muita gente desceu rumo à travessa Adriano Pimentel, em frente ao Centro Cultural João Fona, para participar de um evento histórico: a primeira Parada Gay de Santarém. Ou como a chamaram seus organizadores, dentro da linguagem politicamente correta: I Parada da Diversidade Sexual de Santarém.
Fui ver de perto o evento não apenas com a curiosidade ou com a intenção do deboche que muita gente assumiu (ops!). Me considero um simpatizante desta e de qualquer causa que envolva minorias discriminadas e vítimas de preconceitos idiotas, neste início de milênio.
Lá, no alto do carro-som, a colega jornalista Nívea Corrêa, militante da causa, fazia um discurso impecável denunciando as mazelas que sofrem os homossexuais, assumidos ou não. Ao seu lado Odete Costa, atriz e vereadora heterossexual do PT, recebia a faixa de madrinha do movimento por seu empenho na realização da histórica concentração. A prefeita Maria do Carmo e alguns secretários também subiram. Um discurso e algumas vaias depois, desceram rapidamente.
Um grupinho de universitários vestidos de preto, fazia tremular solidariamente entre as faixas nas tons arco-íris, a bandeira vermelha do P-Sol, partido de Heloísa Helena, mais uma aventura radical das esquerdas brasileiras, tão minorias quanto o movimento...
A maior parte dos que assistiam o desfile era de curiosos, talvez para ver algum gay conhecido ou conhecer algum que resolvesse assumir sua condição. Havia também os gay enrustidos, que preferiam se esconder no anonimato da multidão. De vez em quando surgia um “machão” mais radical vociferando contra os alegres manifestantes ou alguém mais conservador como um velhinho que fez um discurso exorcizando Belzebu e implorando a Deus para que jogasse seus raios contra “Sodoma e Gomorra”!
Os comentários do dia seguinte me revelaram o quanto o preconceito ainda existe entre nós. Não ouvi ninguém elogiando a coragem e a iniciativa do GHS – Grupo de Homossexuais de Santarém, ao realizar a manifestação pelos seus direitos. Foram sempre pejorativos do tipo: “Viu os seios daquela bibona?”, “Menina, pois acredita que um vizinho meu soltou a franga e se assumiu na Parada Gay?!” e “Vi as duas lésbicas se beijando na boca!!!”, ou ainda interpelações do tipo: “Tiveste a coragem de ir àquela pouca vergonha????”.
Pobre da “metrópole” que não consegue conviver com sua diversidade...

domingo, 6 de novembro de 2005

Comentários

Há dias sem postar, por problema que já expliquei, tenho alguns fiéis leitores que aguardam meu retorno e me cobram:
Mirika Bemerguy, comentando o texto sobre o Dia de Finados:
Parece história do outro mundo!
Essa semana passada também fiz do cemitério meu atalho favorito, e igual a você, presenciei cada cena engraçadíssima, um cara não pagou o serviço da supultura e o rapaz contratado não duvidou, pegou o spray/preto e colocou bem grande CALOTEIRO! Já pensou a situação dia de finados?
Ontem pela manhã, cedinho, fui no jazigo de meus pais, e ouvi a voz do bispo rezando uma missa entre os dois cemitérios e um vendedor gritava bem alto dentro do cemitério "areia, areia barata"...
É um lugar inusitado, mas acontecem coisas engraçadíssimas.
"...Duas almas se encontram, no portão do cemitério, se abraçaram e se beijaram, e fizeram lero-lero"...
Juvêncio, também sobre o mesmo artigo:
Bela crônica Jota.
Caminhando entre os mortos, os mortos-vivos e os vivos.
Juvêncio, sobre a instalação do INKA:
Jotinka,
Parabéns pela instalação do INKA.
Muita merda prá vocês.
Considerem-me um servo em Belém, no que eu puder ajudar.
Mas que corte de cabelo arretado esse do Vinholte, hein?Bossinha, como a gente dizia nos meus tempos de (pega) rapaz...rs..
É o tempo não anda pro pessoal aí. Foi ótimo rever o João, libriano como eu.
E muito obrigado pela Guerra de Marcas. Tá lá, orgulhosamante, no 5ª emenda.
Abraço grande e conto com você e suas habilidades greco-romanas para abrandar a zica da galera com as minhas brincadeiras pela blogosfera..rsrsrs.
O leitor que se assina João Cabano:
Ei, Jota, parou a "saga petista"?
O último capítulo que você escreveu do "Dossiê PT" já faz mais de mês.
Acabou-se o que era doce ou se arrependeu de contar outras histórias?
Por falar nisso, uma coisa que me intriga desde que você começou a escrever estes textos interessantes: porque o subtítulo "Estórias que não gostaria de contar"? Quer dizer que se o Lula e a turma dele não tivessem "metido o pé na jaca" para desiludi-lo, você não falaria nada sobre tudo isso que já narrou?
Comentário do blog: obrigado pela fidelidade, apesar de não conseguir manter uma periodicidade no meu blog. Como já expliquei há alguns dias, estou com problemas, pois o meu computador levou "farelo". Estou providenciando um novo e quando tenho algum tempo (e dinheiro sobrando) corro para um cyber. Ao João Cabano, em nenhum momento recebi pressão por causa do Dossiê. Não atualizei até agora, pelos motivos já expostos. A saga vai continuar e já tenho dois novos capítulos prontos. Devo postá-los nos próximos dias. Quanto ao subtítulo da série ("estórias que não gostaria de contar") é na verdade uma alusão à decepção que o partido em nível nacional me causou, pois em nivel local eu já estava decepcionado há muito tempo, mas para não ser visto como outros ressentidos que saíram atirando para todos os lados, tentei manter estas estórias para mim, e só agora as conto porque para mim o PT morreu em definitivo.

Peripatos - A infância que escorre entre os dedos

Continuo com problemas com a internet. Posto com atraso meu artigo publicado no início da semana na coluna Peripatos, no jornal Diário do Tapajós:

Longe de mim ter um discurso moralista e repressor. Sou de uma geração que conviveu num período de transição de nossa cultura, e apesar dos ares de liberdade de expressão da década de 70, senti na pele a educação repressiva de meus pais.
Acho que por isso mesmo minha geração resolveu criar seus filhos de uma forma mais liberal, mas isso não quer dizer que os filhos tenham que ser jogados ao léu. Creio que na última década tem sido quase constante a utilização do advento tecnológico como meio de “educar” os filhos, sem que nenhum filtro seja imposto na programação televisiva ou na internet, ou mesmo nos horários para a utilização destes meios.
Conheço muitos amigos, vizinhos e parentes que não se preocupam com o que os filhos assistem na TV ou que sites acessam na internet. Se sentem aliviados com o fato dos filhos serem criados pelas babás eletrônicas, sem perceber o mal que determinadas cenas podem causar na criação deles. Sei de pessoas que assistem filmes em horários impróprios e não se incomodam que seus filhos com pouca idade assistam qualquer cena. É assim que eles deixam que sua infância escorra entre seus dedos, e depois não poderão juntar os pedaços quando a adolescência revelar desvios.
Não me esqueço de uma cena que vi recentemente nas redondezas de minha casa, que me fez pensar sobre a degradação dos costumes que os canais de comunicação impõem a uma criança desavisada: dois garotos, entre quatro e cinco anos, brincavam na calçada de suas casas em frente à minha. A rua estava deserta e os meninos corriam um atrás do outro, usando só cuequinhas. De repente, se deitaram no chão, depois de olhar ao redor e ver que ninguém os espiava (não viram que eu estava atrás da porta me preparando para sair de casa), arriaram as cuequinhas deitando-se um sobre o outro numa típica posição “papai-mamãe” simulando um coito! Foi aí que me viram, se espantaram e saíram correndo. Perplexo e sem ação retornei para dentro, pensando se deveria fazer alguma coisa. “Vai ver apenas imitaram algo que viram e com o susto não vão mais fazer”, pensei comigo.
Cinco minutos depois saí novamente e lá estavam eles, de novo, se preparando para repetir a cena, quando me viram e levantaram as cuequinhas já arriadas. Aí fiquei parado encarando os meninos com um olhar reprovador. Para minha surpresa um deles me encarou e disse na linguagem infantil: “Ei, homi, saí daí que a gente quer namorar...”
Fiquei atônito. Pensei em atravessar e falar com os seus pais, mas acabei contendo meu ímpeto. Como não os conhecia, imaginei que poderia provocar uma reação violenta contra as crianças ou mesmo contra mim.
Até hoje lembro da cena, que é tragicômica. E imagino que cenas eles ainda vão produzir um dia.

terça-feira, 1 de novembro de 2005

A posse do INKA

Foi uma cerimônia cheia de atrações artísticas, no prédio do Centro Cultural João Fona, no sábado passado, quando a primeira diretoria do Instituto Kauré de Pesquisa e Promoção do Patrimônio Artístico-Cultural da Amazônia (INKA), da qual faço parte, foi empossada.
A solenidade foi presidida pelo coordenador municipal de Cultura, Roberto Vinholte, representando a prefeita Maria do Carmo, e contou com a presença de outras autoridades municipais. Foram apresentadas poesias, esquetes teatrais, dança e capoeira através de membros do INKA, além de música com a participação especial de João Otaviano e Zé Azevêdo.
Quem quiser saber mais sobre o INKA, clique AQUI.
Registro algumas fotos (de Jurandir Azevêdo) do evento:

Momento em que todos os membros da diretoria (ao fundo) são empossados pela mesa.

As meninas do Núcleo de Danças do INKA em performance tupaiu. Os trajes são de autoria de Laurimar Leal, o artista plástico que também é do INKA.

Por fim, os cantores João Otaviano e Zé Azevêdo se apresentam para o público, que compareceu na solenidade de posse da primeira diretoria do INKA.

Peripatos - Pelo direito aos sete palmos de terra

Na semana passada escrevi, na edição regional do Diário do Pará, um artigo em minha coluna Peripatos, relacionado com o Dia de Finados que se comemora amanhã e que ainda não havia postado aqui, mas o faço agora:

Não é nada divertido atravessar um “campo santo”, mesmo que sejamos céticos acerca de teorias kardecistas. Pior ainda quando ainda não vencemos o medo da morte. Mas fazer um “peripatos taciturno” pode ser a oportunidade de, com perdão do trocadilho, “exorcizar alguns fantasmas”. A última (e quiçá, única) vez que passei por este caminho – sem o dever de ofício de repórter – foi há cinco anos, quando carreguei, inclusive, o féretro do grande amigo Sérgio Henn.
A uma semana do Dia de Finados, atravesso por dentro dos cemitérios de N. S. dos Mártires e São João Batista para ver de perto a movimentação que antecede a data. Mas há pouco para se ver: tijolos e areia começam, aos poucos, a serem acumulados no lado de fora; uma mãe negocia com o pedreiro detalhes da reforma do túmulo do filho que morreu num acidente; um casal contrata o jardineiro para cuidar das flores plantadas no jazigo familiar; mais adiante, três pessoas conversam com um rapaz para assumir a tarefa de “segurança especial” de três mausoléus!
É isso mesmo! Além do vigia do cemitério, encontrei “seguranças particulares” que tomam conta de alguns sepulcros para evitar depredações e vandalismos. “Tem gente que arranca a cruz de uma tumba e coloca em outra”, me confidencia um dos vigias contratados. “Não tem caminho entre os jazigos, e quando passam com um caixão, acabam batendo numa lápide e trincando o mármore, ou arrancando alguma cruz”, justifica um abnegado pai cuidando do túmulo do filho.
No tour pelos cemitérios do centro da cidade, caminha-se precariamente num emaranhado de cruzes, lápides ou cercas de ferro. “Tem vezes que a gente passa com o túmulo por cima do outro para chegar à cova do morto”, diz um coveiro informando que ali só se enterra um corpo se a família tiver jazigo. “Novos enterros só no Cambuquira e Mararu, mas até lá os espaços estão acabando”. Diante da revelação me bate um desespero: estarei fadado a não ter consagrado o meu direito de ter pelo menos sete palmos de terra? Ou como diria Chico Buarque, “a parte que te cabe neste latifúndio’?
Uma lápide me chama atenção: “O que seria de nós, mortais, se todos fossemos eternos?”. Pelo jeito, em Santarém a máxima serve tanto para quem está fora como pra quem pretende se abrigar na “futura morada”.
Enquanto isso, ninguém se preocupa com a definição de uma área que sirva para um novo cemitério, dentro dos padrões modernos e com o mínimo de organização e arruamento, para que o descanso eterno não seja violado.
Será que os mortos terão que se rebelar e fazer uma manifestação contra o “descaso das autoridades”, numa repetição das cenas do romance “incidente em Antares”, de Érico Veríssimo, ou de “A volta dos mortos vivos”, filme classe B, de George Romero?
"Bona pars bene dicendi est scite mentiri". [Erasmo]

"Uma boa parte da arte de bem falar, consiste em mentir com habilidade".

domingo, 23 de outubro de 2005

Recomendo:

Nesta segunda-feira, a TV Globo exibe em Tela Quente, a comédia americana Casamento Grego, uma excelente oportunidade de conhecer um pouco sobre a essência da sociedade grega atual. Há momento caricatos, mas muito do que está no roteiro se aproxima da realidade, pelo menos referente à determinadas regiões da Grécia. Eu já estive num casamento grego de cidade do interior, no norte da Grécia, dancei, me empaturrei e quebrei pratos, como reza a tradição. Recomendo o filme. O roteiro foi escrito pela atriz principal, que é descendente de gregos e viveu praticamente toda aquela situação.

Peripatos - A um passo da indignidade

Texto divulgado em minha coluna Peripatos, sexta-feira, no tablóide regional do Diário do Pará, o Diário do Tapajós, editado pela jornalista Albanira Coêlho:

Segunda-feira, 24 de outubro, Santarém completa 157 anos na condição oficial de “cidade”. Esta é uma data que não se comemora há 24 anos, desde que foi oficializada como data de fundação de Santarém, o dia 22 de junho (de 1661). Talvez fosse interessante que nossa urbis pudesse refletir um pouco sobre essa condição, nestes tempos de desalento.
Bastaram 97 anos para que aquela aldeia tapajoara, transformada em missão jesuíta pelo padre Bettendorf, evoluísse a tal ponto que a Província do Grão-Pará a elevasse à categoria de “vila” (em 1758) e outros 90 anos depois, à categoria de cidade. Ou seja, dos 344 anos recém-comemorados por Santarém, evoluímos satisfatoriamente antes de completar o segundo século de existência, mas ao que parece estagnamos no sesquicentenário seguinte!
Vivemos o sonho secular de nos transformamos em um novo Estado, mas “a bola só tem batido na trave”, como se diz no futebol (vai ver, compraram o juiz do nosso jogo...). Aí nos confortamos com a idéia de um “inimigo externo”. Quando não é o governador de plantão, e o deputado paraquedista ou o presidente da vez. Falta olharmos pro nosso umbigo e ver que o inimigo mora do outro lado do espelho.
Passamos por ciclos históricos de extrativismo como o da borracha, da juta, do ouro, da madeira, e de repente nos preparamos para o ciclo da produção de grãos. Vemos a estrada querendo chegar, o terminal graneleiro ameaçando sair, o embate entre dezenas de ONG´s ambientalistas e as “classes produtivas” de Santarém, mas não conseguimos submergir da lama em que nós mesmos nos metemos. Literalmente temos jogado nossa querida “pérola” aos porcos e trilhado o caminho da indignidade.
Senão vejamos: de todos os ciclos que vivenciamos, creio que o mais nefasto seja o das “lideranças políticas”. Nossa história registra momentos históricos de disputas entre coróneis de barranco e populistas de ocasião ( ou vice-versa). Isso nos tem criado uma séria crise de identidade política, ao ponto de centenas de aventureiros quererem lançar mão em campanhas estapafúrdias a cada ano (só para 2006, já há pelo menos uns 30 candidatos a candidato para ser um novo líder...).
Nossa política é parecida com saco de farinha em feira: todo mundo mete a mão. É só ver as pessoas que compõem a linha de frente pela criação do Estado do Tapajós: tirando meia dúzia de abnegados, a grande maioria não passa de oportunistas de olho no voto fácil. Resultado: não elegemos ninguém ou elegemos os mais medíocres. Há algum, tempo afirmei que que nossos políticos quando não são medíocres, são hilários. Agora nem isso são...
Santarém, parabéns pelo seus 157 anos como cidade. Que teus filhos sejam um dia mais dignos de tua história.