sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Paradigmas de ouro contra a mediocridade esportiva

Vou chover no molhado. Dizer o que outros – mais experientes do que eu no assunto – andam dizendo por aí depois de um pan-americano que deixou lições para quem dirige o esporte brasileiro.
O recado não é só para cartolas e técnicos, mas principalmente para os políticos que contaminam a eterna fonte de amadurecimento dos jovens, a prática esportiva, com a mesquinharia do cotidiano de corrupções quando desviam verbas que serviriam para construir quadras polivalentes e as transformam em piscinas de suas mansões.
Não há uma receita mágica para se chegar a uma performance como a dos países que lideram a disputa de medalhas em quase todos os pans: os capitalistas americanos e os comunistas cubanos usam praticamente das mesmas armas, já que o esporte faz parte da vida dos jovens dos dois países desde a infância. É política de governo, não lição de vida individual.
Já no caso brasileiro, sempre que um atleta chega ao podium é sempre o mesmo drama: “esta é a vitória de um atleta que vivia num subúrbio miserável ou numa comunidade rural longínqua, que não tinha nenhum tênis para praticar o esporte que mais amava, mas que lutou, perseverou e agora ganhou uma medalha”. Quantas vezes vimos a mesma narrativa dos locutores? Porque tem que ser sempre assim?
Aqui, a especulação imobiliária de um capitalismo selvagem, dita o crescimento desordenado das cidades, expulsando os campinhos de periferias. As escolas sem quadras, professores sem estímulo. No interior, a situação piora já que não existe sequer uma reforma agrária digna do nome para que as famílias possam se fixar, produzir e evoluir nas comunidades rurais. O que dizer dos jovens que herdam o trabalho escravo das lavouras sem poder sonhar ao menos com uma escola?
Saindo das considerações genéricas vou ao mais trivial dos esportes, o nosso futebol. Vimos num estádio lotado as meninas do Brasil dando show de futebol de campo, sem que haja sequer um campeonato nacional de respeito!
Aquele time teria feito uma campanha melhor que os ridículos jogadores da eterna Era Dunga! Essa era do futebol, pra quem não sabe, começou depois que a seleção de Telê falhou apesar de jogar bonito em 1982 e 1986. Aí chegou um tal de Lazzaroni e sacramentou que o negócio era jogar retrancado para ganhar a Copa de 1990 na Itália, com o “xerife” Dunga. Perdeu e o futebol brasileiro nunca mais foi o mesmo...
É verdade que ganhamos a Copa de 94, num horroroso empate e porque o craque italiano não era o Paolo Rossi de 82, e sim o Baggio, que chutou na trave!
Em 2002, conseguimos recuperar um pouco de nossa auto-estima depois do fiasco de 98 na França, mas foi só chegar 2006 e descobrimos que a Era Dunga não havia acabado. Pelo contrário, estava só começando... E a CBF nos brinda com quem? Ele mesmo, Dunga, o todo-poderoso!
Ganhamos da Argentina na Copa América e todo mundo logo esqueceu o futebol medíocre que jogamos. Esse é o nosso problema: temos memória muito curta.
Ah! se tivéssemos umas 11 Martas para colocar no lugar de preguiçosos Loves, Maicons e outros bagres que nos sobraram na “selecinha”!..
Marta (foto) é um nome que cito como símbolo de um grupo, pois o que vimos foi um futebol bonito como nos tempos de Pelé, em que a bola era tratada com mais carinho. O próprio “Rei” disse que ela é o “Pelé de saias” (o Édson não podia deixar de fazer o seu marketing, entende?).
Eu poderia analisar cada um dos exemplos surgidos de tanta gente desconhecida que nos brindou com medalhas e uma campanha inesquecível no Pan, mas o resultado seria o mesmo: precisamos fazer com que o esporte não seja um sonho que cada um individualmente busca alcançar.
O esporte tem que ser uma realidade de um trabalho coletivo, a ponto de que um dia o desportista possa chegar ao podium e ao invés de agradecer primeiro a Deus e depois ao seus pais, possa dizer: “agradeço ao meu país por ter me dado a chance de erguer esta bandeira e ganhar esta medalha!” Que possamos fazer do paradigma de ouro desse Pan, algo que transforme a mediocridade esportiva do país.
Patriotismo não é chorar pela bandeira que sobe só em época de Copa ou de jogos olímpicos. Patriotismo é poder ter orgulho de um país que está sempre presente, velando pelo futuro de seus filhos.
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(*) Artigo inserido no dia 31.07.2007, em minha coluna semanal Perípatos, publicada no Diário do Tapajós, encarte regional do Diário do Pará.

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