segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

Candidato prefeito

Leitor anônimo, inseriu um comentário aqui no blog, curto e grosso, sobre o artigo "Polgreço":
Frase dita por um político:
"Drenagem não dá placa de inauguração."
Que pena... Nas próximas eleições TATU para prefeito!

ESTUDAR É PRECISO! (*)

Meu artigo de hoje é a reprodução de um texto que escrevi recentemente num boletim da instituição de ensino superior em que estudo. Publico aqui, com pequenas modificações, por achar que o tema é oportuno:
O ato de estudar não precisa necessariamente de uma instituição regulamentada. Mas estudar por estudar pode significar a o dilema hamletiano do “ser ou não ser”. Ou seja, o acompanhamento pedagógico e o modus vivendi nas salas de aula fazem parte de um aprendizado salutar.
Hoje muito se fala que “é preciso estudar para ingressar no mercado de trabalho”. A premissa é verdadeira diante da realidade imposta pelo sistema econômico vigente, mas o pragmatismo contido nela transforma o estudo em obrigação.
Estudar é preciso, como respirar é preciso. Mas não porque qualifica ou insere em algum mercado. O conhecimento, empírico ou científico, deveria ser tão divertido como lazer ou tão prazeroso quanto o sexo.
Eu pessoalmente nunca parei de estudar, dentro ou fora de uma instituição. E apesar de nunca ter conseguido concluir qualquer curso de graduação continuo estudando, com ou sem método, empírica ou cientificamente.
Já abandonei dois cursos de graduação nos quais, por motivos diversos, perdi o interesse. Estou prestes a deixar outro pelo meio do caminho, em busca de uma nova alternativa (caso eu passe no vestibular), sendo que este último é um dos “curso de formação superior específica” de curta direção, desses que nos preparam “para o mercado”. Sinceramente não era isso que me interessava quando passei no vestibular. O mercado que me desculpe, mas estou me lixando pra ele!
Antes de tudo, quero o conhecimento porque gosto de estudar. Muito embora não me adeqüe a determinados padrões e metodologias didático-pedagógicas, vou continuar insistindo.
Que não me entendam mal os leitores quando digo que não “tô nem aí” para o mercado! Para mim a relação profissional com este “ente” que domina nossas vidas deve ser conseqüência, e não causa. Todo mundo nasce com capacidade para assimilar, empírica ou cientificamente, técnicas profissionais.
E dependendo do talento nato de cada um, pode-se conseguir (mesmo que a duras penas) a inserção no tal mercado, mesmo sem um diploma ou certificado. Mas já que ele exige tal papel, vamos à luta!
Há mais de vinte anos atuo como radialista e jornalista em Santarém e há quase três anos exerço a função de Escrivão Judicial concursado do TJE, um cargo que não necessitou mais que minha formação secundarista. Sempre quis me graduar em Jornalismo, e esta opção que vou buscar neste início de ano.
Mas, independente de freqüentar ou não um curso regular, acredito que estudar é antes de tudo aprender, diariamente, dialogando com quem sabe e quem não sabe, pois o conhecimento está acima de qualquer diploma.
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(*) Artigo inserido em minha coluna Perípatos (de 23.12.2005), que é publicada às terças e sextas no Diário do Tapajós, suplemento regional do jornal Diário do Pará.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Vende-se uma manjedoura! (*)

Recebi por e-mail um artigo do genial escritor Mário Prata intitulado “Jingle Bells pra vocês”, que logo inseri em meu quase sempre desatualizado blog. Sua definição para o tal “espírito natalino” que baixa em nossos corpos anualmente foi fantástica. Sem a mesma genialidade do mestre, faço minhas reflexões, correndo o risco de ser amaldiçoado, já que para mim não existe data mais hipócrita do que o Natal.
Em nome do tal “espírito natalino”, de repente, todos nós vivemos o êxtase do arrependimento e nos reunimos com familiares ou colegas de trabalho para “confraternizar”. Por alguns instantes esquecemos todo o ódio que destilamos durante todo o ano e nos convertemos em “cristãos” de última hora. Vemos “o renascimento de Cristo em nossos corações” e chegamos a, hipocritamente, rezar um Pai Nosso que dificilmente balbuciamos no restante do ano!
E aí vem a história da tradição dos presentes. A obrigação de dar um mimo a um “ente querido” ou participar dos repugnantes “amigos secretos”. E o ”Jingle Bell” que azucrina nossos ouvidos combina com o tilintar das caixas registradoras dos comerciantes.
A tal tradição foi praticamente criada pela igreja católica, a partir do mito dos três reis magos, “personagens criados pelo evangelista Mateus para simbolizar o reconhecimento de Jesus por todos os povos”, como explica o professor de História Antiga da UFRJ, André Chevitaresse (Superinteressante/ JAN-2002). Nem há certeza de que tenham sido reis, mas segundo ele, o mito era uma maneira de confirmar a profecia contida no Salmo 72: “Todos os reis cairão diante dele”.
O fato é que em torno desta tradição construiu-se o merchandising necessário para todo mundo faturar. Por conta disso a manjedoura de Cristo está à venda das lojas de R$ 1,99 aos shoppings de luxo. Tudo isso me inspira um mini-conto de Natal:
Casal de retirantes (ela grávida, quase parindo) chega do interior, de bajara, à cidade. Expulsos de suas terras por grileiros, vêm tentar a sobrevida em Santarém. Sem dinheiro e sem abrigo, passa a dormir embaixo daquele monstrengo que chamam de viaduto.
Nasce um menino. Por conta do “espírito natalino” algum “rei mago” surgirá com uma cesta básica. Mas, passado o Natal, a manjedoura (uma caixa de leite forrada de folhas de jornal) e o casal terão que deixar o local, pois o progresso urge.
Mais de trinta anos depois, aquela família estará vivendo em algum lote numa invasão da periferia. Semi-analfabeto e desempregado, o jovem vive de bicos como o pai, que já está quase cego, enquanto a mãe trabalha de doméstica. Revoltado com a situação, o jovem participa de movimentos populares e um dia pode ser morto por um policial durante uma manifestação.
A história se repete, quase com o mesmo enredo, há mais de dois mil anos. Mas o que importa é o peru do Natal e o ho-ho-ho de um Papai Noel gigante na praça.
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(*) Artigo inserido no dia 20.12.2005 em minha coluna Perípatos, que é publicada às terças e sextas no Diário do Tapajós, encarte regional do jornal Diário do Pará.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

Jingle Bell prá vocês (*)

Concordo em gênero, número e grau com o artigo do grande Mário Prata, sobre o Natal, que me foi mandado por e-mail pela amiga Socorro Brasil, de Belém, e que publico aqui no blog:

Não gosto do Natal. Não chego a odiar mas não gosto. Nunca gostei. Desde pequeno, no interior. Papai Noel sempre me assustou. Gostava de preparar a árvore com dias de antecedência, apesar de não concordar em colocar algodão para "simbolizar" a neve. Gostava de imaginar os presentes. Aliás, não gosto nem de dar e nem de receber presentes em datas certas. O presente é bom quando você não espera. No aniversário, Natal, Dia da Criança, depois Dia dos Pais, acho um saco de Papai Noel. O presente, conforme a palavra em si se explica, é uma presença. Portanto, não pode ser datada. Não deve ser uma obrigatoriedade.
Além de não gostar do Natal, em alguns aspectos, ele chega a ser irritante: Em vários aspectos. Senão, vejamos:
— Quer coisa mais irritante durante o mês de dezembro do que ir a um barzinho ou restaurante, de noite, para tomar um chopinho e ter, ao seu lado, aos gritos, berros e urros, uma "festinha da firma", com risos histéricos, discursos profundos e etílicos do "chefe", gozações com a "gostosa" da firma e a indefectível troca de "amigos secretos?" Por que gritam tanto nas "festinhas da firma?" E quando você vai ao banheiro sempre tem um ou dois funcionários burocraticamente vomitando. Como se vomita no Natal! Principalmente os bancários.
— E o "amigo secreto" então? Já notaram que sempre sai para quem não é nem muito amigo e muito menos muito secreto? E você passa o mês inteiro tendo que imaginar o que vai dar praquele chato. Se o "amigo secreto" já é uma relação constrangedora na firma, em família então, nem se fala. Em primeiro lugar, porque dois ou três dias depois do "sorteio", todo mundo já sabe quem é o amigo de quem. Você já sabe pra quem vai dar e de quem vai receber. Essas informações sempre vazam no seio familiar. Sempre tem uma irmã que sabe de todos, ninguém sabe como. E você que torceu para não sair aquela prima fofoqueira, pois é justamente com ela que você vai se abraçar logo mais. E dizer todas aquelas frases. Todas, são insubstituíveis.
— E as propagandas de Natal? Existe coisa mais horrível que este bando de gordos com brancas barbas, puxados por veadinhos? A publicidade brasileira é uma das melhores do mundo, perdendo talvez apenas para a inglesa. Mas, chega o Natal, baixa o "espírito natalino" nos criadores das agências e dá no que dá. Eles não conseguem (há 1.994 anos) fazer um único anúncio sequer decente nessa época. São constrangedores, amadores, dignos de um Papai Noel de mentirinha. Tem uns, mais "criativos", que até neve têm, debaixo dos 40 graus de dezembro.
— E aqueles Papais Noéis que vão de casa em casa e os pais obrigam as criancinhas a dar beijo naquele sujeito imenso, barba descolada, sapatão de militar, já meio bêbado depois de passar em várias casas de amigos e parentes? As criancinhas esperneiam, não dormem semanas seguidas, sonhando com aquele monstro que o pai fez beijar. Meu Deus, é um outro pai que eu tenho?, devem pensar os pequenininhos da família. E o monstro ainda diz "coisas" para os indefesos, presos nos braços do pai ou da mãe, quiçá da avó: este ano, não vai fazer malcriação, vai comer toda a papinha, não vai mentir e nem fazer xixi na cama, viu, Rony? Coitados.
— Mas o pior mesmo é a ceia, propriamente dita. Com o passar dos anos, a família vai crescendo e de repente já são quatro gerações que estão ali, de olho no peru. Umas 50 pessoas. E ali dá de tudo. Cunhados que não se falam, a velhinha que não escuta os planos do asilo, o fulano que está falido, coitado, a prima que está dando para um sobrinho, aquele casal que está separado mas que, no Natal, baixa o "espírito" e eles comparecem juntos. Todo mundo sabe que se odeiam. Mas é Natal. Aquele tio que deve tanto para o seu irmão também está lá. Mas é Natal. E a irmã que não pagou a trombada que ela deu com o carro do tio-avô? Tudo é permitido. Afinal, é Natal. Nasceu quem mesmo? Jesus, não foi? E, por isso, à meia-noite, todos dão as mãos e rezam (des)unidos. E, para terminar: existe música mais chata que Jingle Bell?
Já o Reveillon, é o maior barato. É quando tomamos o porre para tirar e esquecer a ressaca do Natal. Mas não adianta. No ano que vem, tem outro Natal.

Culinária regional: opção de emprego e renda (*)

A culinária regional deveria ter um destaque especial no programa de qualquer político que pretendesse implementar um programa sério de geração de emprego e renda. Seja para consumo de turistas ou para a população local, seria imprescindível uma maior atenção a este setor, afinal é o estômago que fisga a maior parte de nossa atenção no dia-a-dia dos lugares públicos, principalmente nos centros urbanos.
Não se ouve nenhum político dedicar um minuto de seu discurso para esse filão. E se fala, não concretiza qualquer projeto que aproveite a riqueza cultural de nossa culinária, transformando-a em geração de espaços para esse tipo de alimentação. A não ser em balneários turísticos onde a duras penas estes espaços existem, muito embora deixem muito a desejar.
Existe um exército de tacacazeiras e quituteiras regionais prontas para servir guloseimas de dar água na boca. A tradição destas mulheres do povo deixa suas marcas nas esquinas da cidade por conta de seu próprio esforço e perseverança. Elas sobrevivem sem fazer parte de uma estatística organizada da prefeitura ou de uma política de valorização dos espaços para a integração destes profissionais, que gerariam oportunidades de emprego e renda.
Em Belém, nas últimas décadas, muitos espaços públicos evidenciaram a construção de quiosques especiais para abrigar estes profissionais e investiu-se na padronização e na higiene dos produtos. Cada governo que passou deu sua contribuição: alguns com projetos arquitetônicos megalômanos, outros com medidas simples de organização ouvindo os próprios trabalhadores do local. Resultado: hoje dá gosto sentar e comer num boxe do Ver-o-peso, que por muitos anos foi sinônimo de sujeira e desorganização.
Em Santarém, o que se viu sempre foi a perseguição aos ambulantes e suas barraquinhas improvisadas por conta da procedência duvidosa e da higiene dos produtos. A orla em frente à cidade foi projetada para ter quiosques eqüidistantes que serviriam para abrigar esse tipo de serviço, mas até agora não saíram do papel.
E o pior: quem busca alguma guloseima regional entre os ambulantes que se instalaram em toda sua extensão, tem que se contentar com pizzas expressas, hot-dogs ou queijinhos defumados servidos em espeto. Tacacá ou vatapá, nem pensar!
Será que a Semdes – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, não poderia organizar estes espaços e garantir que a orla e outros espaços públicos fossem um espaço para todos os gostos? Porque temos que ser obrigados a desfrutar da bela visão do rio, sem poder degustar dos acepipes regionais? Sem contar na geração de emprego e renda combinada com alimentação mais nutricional.
Nada contra pizzas e x-qualquer coisa. Mas em tempo de diversidade regional e cultural, nada mais justo que garantir um lugar ao sol para nossa culinária, que faz qualquer turista (ou não) lamber os beiços!
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(*) Artigo publicado em minha coluna Peripatos, no Diário do Tapajós - edição regional do Diário do Pará - em 13.12.2005.

sábado, 10 de dezembro de 2005

“POLGRÉÇO”

O companheiro Grazziano Guarany, Gerente de Informática da TV Tapajós, me enviou este delicioso texto há dias. Por conta dos problemas relatados no post anterior, só agora, direto de um cyber, insiro essa pérola... molhada:

Após uma lastimável estiagem voltamos a ter chuva, desta vez uma chuva de verdade, com direito a raios e trovões, “vento-de-cima”, barcos fugindo pro outro lado rio.
Nesta manhã de quarta-feira dirigindo meu carro pelas ruas santarenas, debaixo de uma chuva torrencial me senti andando em São Paulo quando daquelas chuvas que a gente vê pela TV.
O diálogo com a minha filha de 19 anos que ia fazer um prova às 08:00 e só conseguiu chegar às 08:15 foi mais ou menos assim:
- Vamos, pai! dobra nessa... não... não!
- Não dá. Está alagada.
- Vai e dobra na outra.
- Não dá também, não é asfaltada e tá uma vala só.
- Então vai pela Cuiabá e dobra na Mendonça,
- Só dá pra andar uma quadra na Cuiabá ai gente volta e pega a paralela.
- Isso ai! o senhor anda mais uma e volta pra Cuiabá por que lá na frente não passa.
Nossa! Como nossa cidade está ficando igual aquelas que aparecem no Jornal Nacional!
É bacana mesmo, e se a gente assistir ao Patrulhão da Cidade: vai se sentir no Rio de Janeiro: "Mataram um, queimaram outro, espancaram a senhora, esfaquearam o vigia, desapareceu o filho da fulana" e coisas do tipo.
Parece que ninguém mais rouba galinha na nossa cidade.
Estamos virando cidade grande.
É triste ver que depois de décadas de abandono e incompetência na gestão pública estamos pagando o preço, e ainda por cima ver a cidade inchando, a população aumentando, a quantidade de carros cada vez maior e a infraestrutura que não dá conta da cidade.
Depois de anos de obras eleitoreiras onde só se asfaltou uma rua aqui outra ali e não se fez drenagem, nem esgotos, não podíamos esperar outra coisa.

O filho pródigo

Chego em casa exultante:
- Meu filho saiu da UTI!
A família se aglomera em torno do ente querido que retorna ao lar. Ele logo é posto em seu lugar de destaque. Todos fazem fila para cumprimentá-lo. Eu barro todos. Minha saudade é maior. Foram tres meses sem a presença dele em meu lar. Estava prestes a ter um colapso.
-Primeiro eu!
Aviso ameaçador, com a mora de quem manda no lar (pelo menos nestes momentos). Todos fazem cara de muxoxo, mas fazer o quê?
- O senhor sempre preferiu ele do que nós!
Reclamam os filhos amuados.
Cego e surdo, não me afeto com as lamúrias. passo a arrumar o filho querido: cabos, fios, energia e...
Pronto! Meu computado está novamente ligado! Agora quem sabe eu acabe o meu jejum internético!
Passo a reinstalar todos os programas que foram desistalados enquanto esteve no "estaleiro". O próximo passo será conectar na internet, e aí ninguém mais reclamará de meus atrasos no blog!
Cansado, deixo a segunda fase da operação "retorno ao lar" para o dia seguinte.
...
No outro dia, tudo ligado vamos ao trabalho. De repente...
Foi-se o monitor... Queimou-se a chance de me ver do outro lado da tela preta!
....
Agora a parte sã do meu PC volta ao estaleiro... Serão mais quantos dias de agonia?

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

O cão nosso de cada dia (*)

A vida estressante da cidade nos remete à necessidade do contato com a natureza. Acredito que quem tem em casa um bicho de estimação, principalmente se for um cão, tem uma ponte com essa natureza. Tenho em casa 5 espécimes anti-estressantes com os quais brinco e rolo no chão feito criança, esquecendo o que acontece além da janela-TV que se abre à minha frente.
Com um deles em especial, tenho iniciado uma nova rotina de inter-ajuda. É Tunga, um fila brasileiro misturado com vira-lata (ainda mais brasileiro), de pele dourada e que vive estressado por ficar preso em casa. Resolvemos sair juntos todos os dias de manhã (antes d'eu ir ao trabalho) para um passeio na Vera Paz (ou o que restou dela), que fica a 100 metros de minha casa. Eu, meio sonolento só de calção, ele atento e devidamente trajado numa coleira-peitoral.
Tunga é um tipo temperamental, marrento: encrespa com qualquer coisa que não conhece, e, às vezes, pode até se virar contra o dono (já levei algumas mordidas dele!). Mas no fundo é um sentimental...
Como todo cachorro que se preza, Tunga sai cheirando todos os espaços e sempre levanta a perna, despeja jatos de sua urina e marca seu território. Ao entrarmos na área da Vera Paz onde fica um campinho de futebol ele dá a primeira levantada de perna num outdoor onde dois políticos sorriem pedindo votos à Santa. Não acredito que estivesse marcando território neste caso...
Encontramos sinais de um incêndio recente no mato que insiste em crescer na beira da praia. Do terminal da Cargill até à avenida Tapajós, um rastro de destruição de dar dó. Tunga cheira o ar, me olha e parece desaprovar. Antes de atravessarmos o campo, paro e falo com dois homens que estão terminando de calafetar um barco. Um deles me conta que o incêndio foi criminoso: alguém chegou e simplesmente tocou fogo no mato e saiu correndo. O fogo se alastrou no mato seco e só não atingiu a pequena embarcação porque eles estavam lá e jogaram água ao redor.
Tunga me puxa para o campinho. Sai marcando cada um dos picos de escanteio, traves e restos de arquibancadas. É um jogador. Sentamos no meio do campo e Tunga late para os carros que passam na avenida. Ficamos ali por alguns minutos contemplando um pedaço da natureza que está sendo engolido pelo progresso.
O cão me puxa de novo e segue marcando árvores, gramas, tôcos, pedras. Até parar diante de uma cerca com uma placa com inscrição ameaçadora: “Proibido ultrapassar: área restrita”. Do outro lado, galpões. Tunga me fita. Balanço a cabeça negativamente, mas como bom anarquista ele levanta a perna mais uma vez e mija na placa...
Tunga sabe que a natureza não gosta de cercas e nem de proibições. E não deve entender como nós, humanos, nos acomodamos sem reagir.
É hora de voltar para casa.
Uma pilha de processos e de carimbos me esperam.
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(*) artigo inserido em minha coluna Perípatos, publicada no jornal Diário do Pará, em sua edição regional (Diário do Tapajós), de 02.12.2005.